Caminho da Ilha com Calma – 1ª etapa

15 de Março de 2014

Mais um sábado proporcionado pela Associação Catarinense dos Amigos do Caminho de Santiago de Compostela. Dia lindo, para iniciar o projeto “Caminho da Ilha com Calma”. Aliás, uma bela ideia!

Na saída de casa até ao ponto de encontro, para pegar o transporte, no antigo Terminal Urbano de Florianópolis, que irá nos conduzir ao início do primeiro trecho da caminhada – Caieira da Barra Sul, no extremo sul da ilha de Santa Catarina. Penso, é momento de rever amigos e conhecer novos amigos. Escutar histórias, estórias, trocar experiências, jogar conversa fora ou, simplesmente, ficar no silêncio e contemplar a natureza pródiga dessa ilha fantástica ou, ainda, escutar o nosso interior.

Mas, como diz o ditado e, inúmeras vezes repetidas por muitas pessoas “cada caminho é um caminho” e “cada um faz o seu próprio caminho”, lá vamos nós para mais uma etapa individual ou coletiva. Não sei! Também não sei o porquê da ansiedade que toma conta desde que prendo a mochila às costas. Seja para conhecer novos caminhos ou para percorrer caminhos já percorridos. Será que a ansiedade é o somatório de lembranças que percorrem os nossos pensamentos ou é a inquietação por não sabermos o que vamos encontrar? Neste vai e vem de pensamentos, neste sábado, o destino pré-anunciado é a Trilha de Naufragados, o Pastinho, o Saquinho até a praia da Solidão.

Iniciamos como mencionamos pela Caieira da Barra do Sul, passando pelo Farol que tem a função de orientar os navegadores rumo a sul do Brasil Meridional e apontar que aqui é o final desta ilha encantada, a Ilha de Santa Catarina, município de Florianópolis. A construção datada de 1861 está próxima ao Forte Marechal Moura de Naufragados. Este uma fortificação simples do início do século XX, que integra o sistema defensivo da Ilha e o único que não foi construído no século XVIII, a exemplo de Anhatomirim (1738) e São José da Ponta Grossa (1740) e de Nossa Senhora da Conceição de Araçatuba (1742).

Ao se alcançar o Farol impossível não ficar hipnotizado com a paisagem e não pensar na toponímia do lugar. Historiadores e a cultura popular mencionam duas versões para o local. A primeira delas foi atribuída ao naufrágio de uma das embarcações da expedição de Juan Diaz de Solis, ocorrida em abril de 1516, quando tentavam alcançar a baía sul em busca de abrigo natural. Desse naufrágio sobreviveram dez tripulantes e um deles foi Aleixo Garcia. Açoriano de nascimento que passa a viver na ilha por alguns anos entre os índios carijós e construindo a expedição rumo ao território do Peru. O navegador destemido reúne a expedição com indígenas da terra e parte rumo ao seu objetivo, iniciando aqui um dos muitos Caminhos de Peabiru.

Deixando essa história de lado, percorrer a trilha de Naufragados, do Pastinho e do Saquinho é estar num dos lugares mais lindos da Ilha de Santa Catarina. É viver a Mata Atlântica com as suas árvores frutíferas, dos araçazeiros que com seus frutos mancham uma vez por outra a trilha, nesta época do ano. Das goiabeiras cheias de fruto que podem ser degustados ao longo da trilha e, que uma vez por outra, suas árvores derrubadas pela natureza impedem a passagem, obrigando-nos a buscar alternativas de passagem para reencontrar a trilha.

Assim é a trilha! Vegetação nativa encoberta em alguns trechos pelo cruzamento de árvores, cipós que descem formando bailado pelo vento, somam as imagens que podem ser apreciadas das pedras altas e baixas, sobrepostas ou não que servem de embate para que as ondas possam praticar o seu balé formando imensas cortinas brancas, somadas ao imenso azul do mar e ao arquipélago que compõem a geografia da Ilha mágica de tantas lendas e histórias. Na caminhada por meio das árvores sempre nos deparamos com “janelas” ora grandes ora pequenas a acompanhar a silhueta rendilhada do relevo até onde a vista pode alcançar ou se perder no oceano aberto.

Essa trilha é marcada por charmosas praias emolduradas por relevo montanhoso e protegida pela exuberância da mata. A trilha não é simples, mais é compensada pela imagem descortinada a todo o momento. Os seus primeiros 45 minutos até se atingir o Farol, exige das pessoas preparação e, o mesmo, acontecendo com todo o restante do trajeto.

Mas nem tudo no trajeto são belezas e encantamentos. Essa área de preservação permanente nos inquieta à medida que avançamos para o seu interior e nos deparamos com o surgimento de unidades habitacionais clandestinas, cercas de arame que demarcam supostas propriedades. É o progresso? Não! Certamente é a ambição do ser humano na busca de espaços únicos, para satisfazer a suas vaidades individuais.

Por: Ana Lúcia Coutinho


Fotos: Catarina Rüdiger

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