Caminho da Ilha – 2017

Caminho da Ilha – 2017

Talvez, esta seja a caminhada mais esperada pelos associados e simpatizantes, que procuram a ACACSC durante o ano, para desfrutar de uma semana de convívio e de treinamento para os caminhos que levam a Santiago, na paradisíaca Ilha de Santa Catarina, denominada por muitos como a “ilha da magia”. Seus predicados linguísticos, arqueológicos, geográficos, paisagísticos, históricos, culturais, a vida à beira mar das comunidades tradicionais de pescadores, a hospitalidade de sua gente, herança dos primeiros povoadores açorianos que aqui chegaram em 1748, nesses 451 km², desperta em muitos catarinenses, brasileiros e estrangeiros a curiosidade de conhecer e vencer os desafios das trilhas deste caminho, criado pela Associação na gestão de 2006, com trechos de nível de médio para alto, cuidadosamente organizado.

Caminhar nestas trilhas centenárias assinaladas pelos antigos pescadores e agricultores do seu interior tem atiçado o desejo de pessoas de todas as idades. Pisar na terra dos carijós conhecida como Meiembipe -“montanha ao longo do mar”- tem a cada ano mais adeptos. O caminho compreende vários caminhos que se cruzam e se conectam, por terra e por mar. O trajeto sentido baía sul e no sentido baía norte, requer paradas obrigatórias para descanso e desfrute de boa mesa. No sentido sul a mais significativa diz respeito a freguesia do Ribeirão da Ilha, com pousada do mesmo nome que acopla o Eco Museu, voltado para cultura local com direito a uma conversa com o pesquisador e sociólogo Nereu do Vale Pereira, que discorre sobre a história da Ilha. Desfrutar do seu conhecimento é um privilégio, dado a sua experiência e idade avançada. Seguir para naufragados é ter contato, talvez, com um dos trechos que exige bastante preparo físico.

Durante a caminhada nem sempre o clima é agradável. Às vezes o vento Sul, o Nordeste e a famosa lestada surpreendem. No caso específico, desse grupo/novembro de 2017, a turma que seguia pelo Sul enfrenta uma chuva fina e um vendaval de areia que se espalha em rebojo desafiando os caminhantes. A experiência pode ser comparada, guardando as devidas proporções, com as surpresas causadas pelas mudanças repentinas do clima no Cebreiro.  Mas nem sempre é assim! Em dias lindos pode-se desfrutar de banhos de mar, belas paisagens, do verde da vegetação que contrasta com a areia branca e dos inúmeros costões de pedra emoldurados pelo branco do rebentar das ondas.

Durante todo o trajeto tanto do grupo que caminha sentindo baía norte, quanto o da baía sul, a cultura material pode ser presenciada na construção civil e religiosa e a imaterial fica por conta das rendeiras, dos pescadores, que no vai-e-vem com a lida do mar, reparam suas redes, e suas embarcações do tipo canoas baleeiras e bordadas. Do resultado do trabalho desses homens depara-se com a boa gastronomia de frutos do mar. A praia de Cacupé, Santo Antônio de Lisboa, Sambaqui, Daniela, Jurerê, Canasvieiras, Ponta da Canas, Lagoinha, Brava, Ingleses, Santinho, São João do Rio Vermelho, Moçambique, Barra da Lagoa, Mole, Joaquina, Campeche, Armação e Pântano do Sul.  Este último um dos exemplos representativos da população tradicional, onde está situado um dos restaurantes mais emblemáticos da Ilha – o Restaurante do Arantes – antigo bar de pescadores. Ali, a dona Hilda, de 104 anos, tia dos proprietários, manezinha, rendeira e benzedeira recebe e protege os caminhantes com uma de suas rezas – a de Mal Olhado ou Quebranto, para tirar e espantar males acometidos. Impossível ignorar esse lugar, cheio de “papelinhos” recordado com dizeres mil de gente de todas as partes do mundo.

Ao final do percurso foram 188 km, descortinando a ilha de Santa Catarina. A credencial preenchida e o Certificado na linguagem “manesês” fica a certeza dos bons momentos, a troca compartilhada, a hospitalidade, a organização e o pronto atendimento da Diretoria.

nov/2017