Caminho Francês, de Bicicleta

Informações aos ciclistas

 

Por:
Itamar Oliveira Viera

Estas informações têm conexão com meu artigo “Caminho Francês – Caminhando ou de bicicleta?”, do livro “Olhar Peregrino”, editado pela ACACSC. Aqui procuro ser mais objetivo, mostrando aspectos práticos para quem deseja fazer o Caminho Francês de bicicleta.

A preparação

É muito importante informar-se previamente sobre o Caminho, decidir de onde quer começar e que rota seguir. Mas do mesmo modo que caminhando, podemos iniciar em qualquer cidade do percurso, ou até mesmo em território francês, antes da cidade de Saint-Jean-Pied-de-Port.

Qual melhor estação do ano, na Europa, para realizar este sonho? Nos meses mais frios – novembro até fevereiro -, com risco de neve, não existem muitos aficionados da bike no Caminho. Já nos meses de abril a setembro o percentual de ciclistas aumenta. Nos meses de julho e agosto, além de altas temperatura (>30ºC), há uma incidência expressiva de peregrinos, por ser o período de férias no velho continente. Acredito que as melhores opções são maio e setembro, meses que têm um número menor de peregrinos a pé e as temperaturas são agradáveis, apesar da maior instabilidade climática.

Quanto ao tempo necessário? Entre 13 e 15 dias dá para aproveitar bem os lugares mais importantes. É conveniente deixar uns dias a mais para eventuais imprevistos. Alguns, por contar de poucos dias livres, optam em fazer o Caminho dividido em partes, às vezes em estações do ano diferentes. Um ciclista experiente, já está preparado fisicamente, pode ser tentado a apressar-se; a este sugiro que não se ponha nesta viagem física e espiritualmente maravilhosa, com a carga de energia como se estivesse numa prova atlética. Este Caminho é para ser vivido conscientemente a cada momento, compartilhado com outros companheiros, uma realização pessoal inesquecível.

Após a definição do lugar de onde iniciar a peregrinação de bicicleta e tendo escolhido a época e o tempo de realização, começa a fase de treinamento físico, considerando um percurso de 800 km, com uma altimetria bem complicada. Recomendo um período de três a quatro meses de treinamento com bicicleta, para quem não está em um bom condicionamento – incluindo boas subidas e percursos longos. Quem está em boa forma necessita somente uma preparação para o Caminho e pequenos ajuste na bicicleta. Lembre-se que pedalará em torno de 50 a 100 km por dia, em dez a quinze dias seguidos.

Existem serviços na internet que disponibilizam bicicletas desde onde se quer iniciar o Caminho. No dia e horário escolhidos terão a bicicleta equipada para começar a “missão”. O preço de aluguel não é tão exorbitante, porém o ciclista não estaria tão adaptado ao equipamento. Se levar sua bicicleta, não esqueça de levar a nota fiscal ou declaração de compra para comprovar que é de sua propriedade.

Optei por levar minha bicicleta. Assim, ao longo do período de treinamento, fiz os ajustes ergonômicos da bicicleta, acertei alforjes, colocação de velocímetro, GPS, carregadores de água e repositores/alimentos, etc. Levei uma bicicleta tipo mountain bike com V-brake, mas atualmente se pode optar por modelos de freio à disco, sem problemas. (Uma dica: existe uma proteção que se coloca junto ao aro que diminui o risco de pneu furado).

Assim como o caminhante, o ciclista tem que minimizar o peso a transportar. Não muito mais que doze quilos, num alforje de boa qualidade ou com capas impermeáveis. Quanto menos peso melhor para resistir nas subidas e longos percursos diários. Atenção para bermudas de ciclistas e roupas que protejam do frio e da chuva.

Se levar sua bicicleta, você deve fazer uma boa revisão antes do embarque (há oficinas de bicicletas por todo lugar, ao longo do Caminho) e acondiciona-la numa mala-bike ou mesmo numa caixa de bicicleta que possa ganhar nas lojas especializadas. Solte o guidão, tire o selim e inverta os pedais ao colocar na caixa, onde também vai a maior parte das cargas. O alforje vai nas mãos, com os pertences de maior valor.

Quanto a mim, viajei até Madrid. De lá fui de ônibus até Pamplona e depois de taxi até Saint-Jean-de-Port. Mas considero melhor ir de avião até Pamplona e de lá seguir de ônibus ou taxi até seu destino: Saint-Jean ou Roncesvalles, na dependência do horário de chegada em Pamplona. Pegar o trem de Madrid até Pamplona complica bastante mais devido deslocamento até estação do trem com a caixa da bike.

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No Caminho

Juntamente com um amigo que viajou comigo, resolvi sair de Saint-Jean-Pied-de-Port (França) seguindo por rodovia asfaltada, subindo por 26 quilômetros e chegando a 1480 metros de altitude no Alto de Ibañeta. De lá, finalmente alcançamos Roncesvalles (Espanha). Foi um percurso bonito, gratificante fisicamente, que ficou impregnado para não ser esquecido pelas emoções que causou. Outra opção seria deixar a bicicleta no albergue de Roncesvalles, ir até Saint-Jean e de lá subir os Pirineus a pé, até Roncesvalles. (A subida pela “Rota dos Portos de Cize”, tradicionalmente utilizada pelos peregrinos a pé, é majestosa, mas no meu entendimento não justifica empurrar a bicicleta, na subida dos Pirineus, a maior parte do primeiro dia).

Normalmente, se pedala de duas a três vezes mais quilômetros num dia, comparando à peregrinação a pé. Girava a bike em torno das oito horas por dia, geralmente iniciando com a primeira luz do dia e encerrando a jornada diária depois das 18:00 horas. Pedalava até alcançar o lugar alvo planejado para pernoite, onde procurava um albergue público disponível, tendo como objetivo ter contato com o maior número de pessoas de diferentes países. Era também o momento em que planejava o dia seguinte. Atenção: os albergues públicos dão preferência aos peregrinos a pé, mas existem outras opções de local para pernoite (no inverno há redução de estabelecimentos abertos).

O Caminho oferece segurança a todos que façam passagem por ele, tendo em vista que em sua maior parte segue por estradas rurais. Recomendo bloquear a bicicleta com cadeado de segurança quando passar pelas cidades para fazer uma refeição ou compras e, também, nos albergues, durante o pernoite.

Respeite o peregrino a pé sempre, que por vezes, vão muito absortos em seus mundos interiores, sinalizando a aproximação da bike.

Levei um guia da rota, que me orientou nas opções de percurso: seguindo pela rota do peregrino a pé ou tomando um caminho alternativo, de acordo com as dificuldades das estradas. Procurei, preferencialmente, seguir pelo trajeto dos peregrinos a pé. Em certos locais onde ficava muito difícil trafegar pedalando, o mapa fornecia alternativas para seguir e opção de retorno ao caminho na sequência. Com esta estratégia passava mais pelos pueblos e suas referências históricas.

Há muitos ciclistas que fazem o Caminho Francês sozinhos. Acho que é mais seguro e recomendado fazê-lo em pequenos grupos de duas a três pessoas. Facilita a mobilidade e, nas paradas, troca-se percepções e expectativas com outros peregrinos a pé e de bike. Observei que os grupos maiores pedalam rápido, preferindo as carreteras (estradas asfaltadas). Com isto em poucos dias chegam a Santiago. Percorrer muito rápido, com a preocupação de chegar o mais cedo possível tira a concentração do que está em volta do Caminho, diminuindo assim a intensidade de nossas percepções. O esforço suplanta nosso estado de contemplação. É uma escolha nossa passar por este maravilhoso Caminho como esportista ou como contemplador. Temos oportunidade de ser reflexivo, mesmo pedalando, porque tudo é muito especial.

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Aproximadamente na sexta etapa – a partir de Burgos até Astorga -, percorre-se por três dias uns 230 km, as mesetas centrais da Espanha, que são relativamente planas. No restante do percurso, sempre tem dias com variação média de altimetria. A subida dos Pirineus (Saint-Jean-Pied-de-Port até Roncesvalles) foi difícil, assim como a do Alto del Perdón, devido à sinalização deficiente segui pelo caminho dos peregrinos a pé. Foi bastante árduo. Outras lembranças de subidas mais longas: Villafranca de Montes de Oca; de Foncebadón; do Cebreiro (subi por Pedrafita del Cebreiro). Após Portomarin há uma subida longa cansativa e depois o caminho segue com variações médias de altimetria, mas se tem que utilizar mais as carreteras. Porém, Santiago de Compostela está próximo.

De Saint-Jean até a Catedral do Apóstolo, realizei o percurso em 13 dias, sem interrupções, na companhia de um amigo ciclista. Mas algumas cidades como Pamplona, Burgos, León, mereceram um dia extra para melhor explorá-las.

Ao chegar em Santiago Compostela, deixei minha bicicleta na Tienda Ultreya, que a embalou noutra caixa de transporte e deixou-a pronta para o despacho aéreo. Voltei de ônibus de Santiago de Compostela até Madrid, levando a bicicleta comigo. Outra opção, poderia tê-la despachado por via aérea, desde Santiago para o Brasil, se tivesse feito a opção assim.

Passa o tempo, mas de vez em quando, volta um filme de como foi bom fazer o planejamento do Caminho, preparar-me e conseguir realizá-lo. O que ficou impregnado em mim é que o companheirismo, o encontro com pessoas de países tão distantes e díspares foi muito enriquecedor, energizador e facilitador, permitindo-me superar tantos obstáculos. Mas o mais importante é que fiquei marcado para sempre pelo Caminho de Santiago. Tão marcado que, se não volto de imediato, fico feliz com a possibilidade de ajudar a outros a fazê-lo, enquanto aguardo o tempo de realizá-lo novamente.

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Leituras recomendadas:
1. “El Camino de Santiago en tu mochila” – Antón Pombo
2. “Bici: Map-Lo Esencial – El Camino Francés” – Petirrojo Ed.

Sites na internet (Clique para acessar os sites):
1. eroski:caminodesantiago.consumer.es
2. bicigrino.com;
3. cicloide.com;
4. Caminho Francês – 1ª parte: http://pt.wikiloc.com/wikiloc/view.do?id=7406641
5. Caminho Francês – 2ª parte: http://pt.wikiloc.com/wikiloc/view.do?id=7406568

Oficina do peregrino – informações gerais e estatísticas (Clique para acessar os sites):
1. http://peregrinossantiago.es/esp/oficina-del-peregrino/estadisticas

Locação bicicletas (Clique para acessar os sites):
1. Tienda Ultreya – calle Rua Nova, 36-B, Santiago de Compostela. Fone 981-580.021 e 699.270. 890. (Contato José Maria)
2. http://www.bicigrino.com (ou outras acessadas pela internet)