Caminhada Surpresa 2011

UMA CAMINHADA NÃO TÃO SURPRESA

Março,  dia 4,  sexta-feira da tardinha do Carnaval de 2011, às dezoito horas e quatorze minutos, do Terminal Urbano de Floripa é dado o arranque inicial da Caminhada-Não- Tão-Surpresa do Guido, este ano para o delicioso , chuvarado e tranquilo Vale Europeu de Santa Catarina.

A trombeta quirínea anunciara previamente o destino – Blumenau – mas foram 72 quilômetros além: Doutor Pedrinho (homenagem feita com o nome da cidade ao pai do Governador da época, Aderbal Ramos da Silva).

O guia Guido lança em primeira mão a notícia de uma Caminhada sem surpresa, a Rota Romântica, no próximo ano, na Alemanha.

A parada no Tapioca para o jantar, com vista dágua, em Timbó, despertou os 40 famintos e sonolentos viventes com cardápio de massas variadas, bem como a apresentação do chopp da Cervejaria Borck, uma das mais antigas cervejarias artesanais do Brasil, feita na cidade de Timbó, coração da colonização alemã e italiana em Santa Catarina. Para os amantes da cerveja vale a erudição em saber dos tipos Pilsen, com notas leves de malte, lúpulo e frutas; o tipo Malzbier(escura) de sabor levemente adocicado devido ao caramelo em sua composição aliado ao puro malte; o tipo Weizenbier, chopp de alta fermentação produzido com malte de trigo, com notas frutadas de cravo e banana.

Satisfeitos, partiram os viajantes, chegando sob chuviscos da breve caminhada noturna por conta da curva pesada demais para o ônibus até ao pouso final onde se aninharam para dormir por volta da meia-noite na Bella Casa da simpática e comunicativa Dona Isabel, em Doutor Pedrinho, 530 metros de altitude, fundada em 1989 e hoje com população de menos de três mil habitantes.

Sábado, dia 5 de Março, acordes dos pássaros misturados à fala dos madrugadores acordavam de vez os ansiosos caminhantes para o percurso de 25 quilômetros proposto para o primeiro dia, com saída às 9 horas e quatorze minutos.

Esperar pelo café ficou mais gostoso com a sessão de alongamento e prece seguida do encontro dos corações no abraço peregrino.

O café da manhã, ah, aquilo sim pode ser chamado de o café da manhã: pães caseiros de milho, integral, de cará e trigo, cucas, strudel de banana, sucos naturais, mamão, iogurte, frios, queijos e queijinhos, geléia de morangos gigantes, mel, chá e leite fartamente distribuídos pela longa mesa da sala de refeições, com sacada e vista total para a pequena cidade.

Ao dia um tanto enferruscado sucedeu-se um outro, belo, no clima e na bucólica paisagem repleta de borboletas, flores do mato, pássaros e o verde dos arrozais.Tudo isso com a beleza do casal-de-lis, seu irmão e Tânia,do lorde Roberto e seu amor, do monsieur moustache mais sua arnica na pinga, remedinho pra todos os males, feito pela alardeante e entendida das ervas Jaci, da borboletinha de olhos verdes e seu Stanis, desobediente desbravador de trilhas perigosas, da nova noivinha, do retumbar do quiríneo vozeirão, do casal Senior, da Marihada, da Pesavento e Pesafala e seu amore, do coronel e coronela, do bompapo do Rui e sua bela Nazaré, da criatura e sua filmadora, da outraTânia, presupuesto e o mo Nego, da mãe das águas, do pitador inaciano, do Luiz-catador de telha antiga, dos casais Machado e Vieira, do Ivo-viu-a- fruta, deu-de si e demais.

Hora do almoço, trazido e servido pelo pessoal da Pousada – fartíssimo risoto de galinha, banana e bebidas geladinhas teve empréstimo da Mãe-Natureza na improvisada mesa feita de antiquíssima pedra que fazia parte da Gruta de Santo Antônio, com altarzinho para o Santo e tudo, exuberante na sua ancestralidade e imensidão. Impressionante mesmo! Tudo superlativo!

Casas peculiares, araucárias, orquídeas e bromélias, pomares com frutas- peras, araçás, figos, goiabas prontos para serem comidos-despontavam pelo caminho com pausas infindáveis para o registro digital.

O trajeto de volta para o belo ninho coletivo foi alegre com cantoria, agora humana, marchinhas de Carnaval, canções do Roberto Carlos e até Hinos, na batuta da patriota professora vacariense (ou vacariana?) e a mana, acompanhadas souzamente, todos sob a proteção guidiana e retaguarda do anjo açoriano, sob os olhos da escrevente atenta. Paradas etílicas nos dois botecos da cidade que apareceram no trajeto até à Pousada: a laranjinha, depois uma Schincariol preta para celebrar a chegada.

Novamente outra espera agradável: bate-papo e confraternização antes do jantar e até uma mini-noite de autógrafos do Mulheres no Caminho.

O cansaço da caminhada não foi forte impedimento à turma para ensaiar um gritinho de Carnaval depois do jantar ítalo-alemão: polenta mexida na panela de ferro durante uma hora e meia (segundo a cozinheira), saladas, galinha ensopada e costelinhas de porco ao forno.Ah, e postre: sagu de vinho, molho de leite, sagu com peras e manjar. A descoberta do vinho Retrati, feito em Rodeio, foi saborosa.

Domingo, dia 6 de Março. Depois do gostoso café da manhã, sem pressa, às 9 horas e quatorze minutos os identes se dão as mãos, rezam e partem para o leve percurso de 12 quilômetros, pesado em lama já que a chuva resolveu ser a companheira do dia.

Bonito de se ver a pose do casal Perottoni caminhando embaixo de sombrinhas..singing in the rain …ao lado dos verdejantes campos de arroz.

Enfim, a chegada. A chuva. Mais uma andadinha de 20 minutos dentro da mata até a cachoeira. Maravilhosa!  Um paredão de 63 metros de altura de queda dágua em frente a um paredão de pedra coberto por mata nativa! É a Cachoeira Véu de Noiva! Rugindo com a fúria das torrentes caudalosas da chuva afastou toda a vontade de qualquer criatura de entrar nas suas águas, com redemoinhos e fortes correntezas.

Alguém grita: “Eu sou o dono do mundo” ao olhar tanta grandiosidade e logo vem a ressalva do sábio Inácio: “Nós somos filhos do dono do mundo”. Outra andadinha sob novo aguaceiro e… de volta à confraternização final. Vai uma chuletona aí? Frango, aipim, feijão, arroz, salada e a pródiga chuleta. Muitas cañas,conversas e mais cañas

Hora da partida, pretensos esquecimentos, e de novo, mas será o Benedito? A chuva que impede a caminhada (mais de um quilômetro) de muitos até a Gruta de Nossa Senhora de Fátima. Uma subida e tanto! Uma caverna enorme e queda dágua, lindíssimas.

Tranquila a volta até Blumenau: uma paradinha para deixar os blumenauenses em casa e tomar um café no CafeHaus do Hotel Glória.

De novo no ônibus, chega a hora das falas, agradecimentos e depoimentos. Cada viajante se (re)apresenta e deixa sua mensagem: consenso de mais uma Caminhada Surpresa de sucesso e de dedicação por parte dos organizadores. Saiu até parabéns ao organizador-mor, Guido, pela passagem do seu tão próximo aniversário natalício. O Presidente encerra o palavreado e logo se avistava mais uma vez ao longe a magnífica Hercílio Luz anunciando a volta dos caminhantes a Florianópolis.

Lígia Maria Knabben Becker


Fotos por Lis Elena


Detalhes do Evento