O Caminho da Dor

Autor: Lígia Maria Knabben Becker

Toda criatura, em determinado momento da sua vida, de alguma forma ou de outra estará sujeita a ações equivocadas.

Uma vez descoberto o erro, terá que refazer a ação e tentar uma maneira diferente de agir, trilhando, assim, o caminho do bem.

Nem sempre se consegue esta mudança de imediato, pois o aperfeiçoamento é difícil, bem o sabemos, porque implica em vontade e persistência da criatura.

Se ainda não atingimos o nível de maturidade para abandonar os vícios e o desregramento de toda ordem, permaneceremos no mesmo estágio de aprendizagem e não avançaremos na nossa evolução.

É certo que aprendemos com nossos erros e a prática do erro pelo nosso livre-arbítrio nos dará, não castigos divinos (Deus não castiga nunca), mas consequências que acarretarão sofrimentos.

A verdade é que, sem dor, ninguém cresce. A intensidade da dor ou seja, o tanto que sofremos, vai depender do nosso grau de consciência.

A passagem onde o Mestre Jesus bem aventurava os aflitos pode conter esse ensinamento: a dor, a aflição sem revolta ou desespero é um anseio de crescimento, por isso, “bem-aventurados os aflitos”.

Somos como o milho-pipoca, que, para tornar-se útil, tem que passar pelo fogo depurador, transformando-se, tal como o processo de desenvolvimento da criatura rumo ao infinito.

Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre. Assim acontece com a gente.

As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo da dor. Quem não passa pelo fogo tende a ficar do mesmo jeito a vida inteira.

São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosas.

Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente vem o fogo.

O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos – a dor.

Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, perder um emprego, ser traído.

Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento cujas causas ignoramos.

Há sempre um recurso do remédio de se apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. A possibilidade de transformação também.

Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer.

Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si.

Dentro da sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela.

A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM!

E ela, aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.
Bom, mas ainda temos o piruá que é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar.

Acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do jeito de elas serem. A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura. Ficarão cascas duras a vida inteira.

Transformar-se na flor branca, macia e nutritiva seria a escolha: pipoca ou milho para sempre.

A comparação reflete as nossas atitudes do cotidiano. Quando compreendemos o sentido da dor em suas várias nuances – aflições, tristezas, angústias, frustrações, coisas desse gênero- como terapia da alma e em vez de revolta tivermos a autocompreensão dos desequilíbrios, daí estaremos cruzando o caminho pela porta estreita da transformação.

A dor tem uma gênese, que é, na sua grande maioria, o resultado de nosso desrespeito às Leis Maiores e daí…bem, daí a dor surge para colocar as coisas no seu devido lugar…..

O que às vezes nos parece ser um mal em determinadas circunstâncias é, na realidade, um bem.

Toda mudança depende da vontade de cada um. Podemos ficar apenas nos planos para uma mudança interna e não colocar nada em prática.

Não basta desejar: o nosso planejamento só se concretizará se trabalharmos para a sua realização no momento certo e assim, desenvolver condições de alcançar nossos objetivos.

Que o caminho da dor possa ser a passagem para o caminho do bem rumo ao processo da felicidade.