O Caminho de Santiago de Compostela

Um Caminho Sagrado

No ano de 813, um pastor de nome Pelaio foi guiado por uma milagrosa chuva de estrelas que indicava a localização de um túmulo no monte Libradón. Ao saber do fato, o bispo de Iría Flávia, Teodomiro, mandou efetuar escavações no local, tendo sido encontrada uma urna de mármore, contendo restos mortais. Inspirado por revelação divina, o bispo anuncia que os restos ali encontrados pertenciam ao apóstolo São Tiago Maior, apóstolo de Jesus e irmão de São João Evangelista.

Em torno dessa revelação, criou-se a história que atribui a São Tiago haver pregado sua fé nos reinos ao norte da Espanha, ainda no alvorecer do Cristianismo. Após seis anos de pregação, teria retornado à Palestina, onde foi decapitado a mando de Herodes no ano de 44. Seus discípulos, para cumprir a tradição de sepultar os apóstolos em locais por onde pregaram, teriam levado seu corpo até a Galícia. O rei Afonso II, do reino das Astúrias, mandou edificar uma igreja sobre a sepultura, tão milagrosamente descoberta.

Atribui-se a São Tiago Maior uma milagrosa intervenção na batalha de Clavijo (Logroño, ano de 844): montado em um corcel branco o santo teria desbaratado as hostes mouras, quando os cristão já se davam por perdidos. Nessa mistura de lendas e fatos, o santo tornou-se o catalizador dos reinos cristãos espanhóis e o líder carismático que lhes faltava para dar combate ao avanço muçulmano sobre a península ibérica, ao qual mobilizaram-se também outros reinos cristãos europeus.

O local em que a urna foi encontrada veio a ser conhecido por Santiago de Compostela (campo de estrelas) e, já no início do século X, tornou-se destino de peregrinação. A pequena igreja foi sendo ampliada e modificada até tornar-se a exuberante catedral barroca atual, cujas pedras há séculos são impregnadas de incontáveis preces e votos de fé peregrina de gerações de celebrantes e fiéis.

O Caminho é num cenário de grande riqueza histórica, arquitetônica e cultural, pois a Espanha é pródiga em monumentos, prédios públicos, igrejas e catedrais seculares de beleza indescritível. Em 1962 a Unesco atribuiu ao Caminho o título de “Conjunto Histórico-Artístico” e, em 1992, o título de “Patrimônio Histórico da Humanidade” à cidade de Santiago de Compostela.

Por que as pessoas fazem o Caminho?

Uns o percorrem por questões de fé, alguns para pagar promessa ou pedir uma graça, outros pela peregrinação em si e há os que vêem no Caminho uma metáfora de suas próprias vidas. Há aqueles que simplesmente vão a ele como a um belo roteiro turístico ou como um desafio a si mesmos ou por uma infinidade de outras razões.

Seja qual for a razão, a peregrinação pelo Caminho de Santiago de Compostela é um tempo de reflexão, uma imersão numa vida simples: tudo de que se precisa cabe numa mochila, dormir em albergues com o mínimo de conforto e confraternizar com outros peregrinos, compartilhando atos de solidariedade e fraternidade.

Passada a preocupação natural dos primeiros dias – onde dormir, onde comer, como não se perder -, aos poucos o peregrino vai se tornando mais atento a seus pensamentos, sentimentos e vivências. Ao permitir-se aprofundar em suas questões internas, desenvolve um grau de consciência mais apurado, mais intenso e mais presente em suas ações.

A quem se permite, esse mergulho em si mesmo resulta numa profunda experiência espiritual, que torna o Caminho realmente sagrado.

Qual Caminho?

A rota mais tradicional é o chamado Caminho Francês (ver mapa abaixo – rota em amarelo), que inicia em Saint Jean-Pied-de-Port, na França, distante 772 Km de Santiago de Compostela. No entanto, por toda a Europa há diferentes trajetos – uns menores, outros maiores – todos conduzindo ao mesmo destino: a catedral onde está a urna de prata com os restos mortais do apóstolo.

mapa-rotas-santiago

O peregrino pode optar por um percurso menor, iniciando a caminhar em Pamplona (704 Km), Burgos (484 Km), León (306 Km), Ponferrada (205 Km) ou em qualquer outra cidade ou vila ao longo do Caminho. Contudo, para ter direito ao certificado de peregrino – a Compostelana – precisa caminhar pelo menos os últimos 100 Km, ou seja, a partir de Sarria (115 Km) ou, preferentemente, d´O Cebreiro (154 Km), o pórtico da Galícia, vila tão antiga quanto cheia de encantos, mistérios e lendas.

Outra forma de peregrinar, como o fazem muitos europeus, é caminhar por etapas, em intervalos de semanas ou meses, de acordo com sua disponibilidade financeira ou de tempo ou disposição física. Além disso, o Caminho pode ser feito em três modalidades: a pé, de bicicleta ou a cavalo.

É nessa rota – Caminho Francês – que está o maior número de albergues religiosos, públicos ou privados e a maior infraestrutura de apoio, além da cortesia com que as pessoas recebem os peregrinos, oferecendo-lhes a informação correta, um regalo inesperado, um sorriso solidário e os onipresentes votos de “¡Buen Camino!”.

O Caminho Francês é também o mais rico em rituais, mitos e lendas, entre os quais as de Carlos Magno, Roldão, El Cid e César Bórgia. Também são muitas as histórias de milagres, tais como a galinha revivida de Santo Domingo de la Calzada, o milagre eucarístico do Cebreiro e de aparições da Virgem Maria.

Associação Catarinense dos Amigos do Caminho de Santiago de Compostela

A Associação Catarinense dos Amigos do Caminho de Santiago de Compostela – ACACSC -, com sede em Florianópolis, é credenciada pela Xunta de Galícia e tem como objetivos de divulgar o Caminho, preparar os futuros peregrinos e fornecer-lhes a Credencial do Peregrino.

Entre as ações de divulgação do Caminho estão palestras, distribuição de livros e de folhetos informativos, manutenção de um site próprio e orientação personalizada a candidatos à peregrinação.

A principal forma de preparo promovida pela ACACSC é o Caminho da Ilha de Santa Catarina, Florianópolis, um percurso de 180 Km dividido em oito etapas. Trata-se de uma vivência prática do dia-a-dia peregrino: mochila às costas, caminhar o percurso convivendo com pessoas que ainda não conhece, auxiliar e ser auxiliado, deixar-se envolver pela beleza da Ilha, suportar o cansaço e a dor eventual, trocar ideias e buscar informações úteis à peregrinação e, enfim, celebrar a chegada ao albergue ou pousada para o merecido descanso.

A Credencial do Peregrino é um documento indispensável, pois é nele que são feitos os registros das localidades por onde passar e que, ao final, lhe dará direito à Compostelana. Somente as Associações de Amigos do Caminho fornecem a Credencial, mediante cadastro e apresentação do passaporte e passagens de ida e volta, mesmo para peregrinos não associados.

Leia também:

– Recomendações Para Uma Boa Caminhada de Peregrinação, artigo de Jairo Ferreira Machado. [clique aqui]

– Relatos e Reflexões Sobre o Caminho de Santiago, artigo de Quirino Pedro Mannes. [clique aqui]

– Caminho de Santiago. Um Breve Histórico, artigo de Rudi Zen. [clique aqui]

– Relato de um casal de associados sobre suas experiências, dia-a-dia, no Caminho de Santiago de Compostela. Saint-Jean-Pied-de-Port a Santiago de Compostela. [clique aqui]