cruzes antigas que orientavam os peregrinos de séculos atrás. Isto
dava chance ao meu companheiro de ver também estes sítios
icônicos, mas por vezes eu tinha a intenção de passar por lugares
que evocavamboas recordações e de reviver momentos de grande
emoção de quando tinha passado como peregrino a pé.
Falando em recordações e emoções, o ritmomais rápido da
bicicleta tira nossa concentração do que está emvolta do Caminho,
diminuindo a intensidade de nossas percepções. O esforço
suplanta nosso estado de contemplação. Há também uma outra
grande diferença no modo de fazer o Caminho Francês, ou
qualquer outro caminho, a pé ou de bicicleta. Caminhando se sobe
morros e montanhas mais lentamente e não se cansa tanto. De
bicicleta, há um grau de exigência física muito forte. Isto foi
percebido na subida dos Pirineus e muito especialmente nas
subidas do Alto del Perdón, de Foncebadón e do Cebreiro. Com
exceção do Alto del Perdón, nas outras subidas fomos pela
carretera
.
Como peregrino, em 2010, via os grupos de ciclistas como
atletas que estavam fazendo uma competição. Todos, sempre, com
pressa. Uma peregrina da Austrália, fez o seguinte comentário:
“estes ciclistas são muito fortes e atletas, passam tão rápido, não
parece que estão fazendo oCaminho de Santiago de Compostela”.
Ainda nos primeiros dias de nosso caminho, tive a grata
satisfação de encontrar o primeiro ciclista. Ummineiro, que estava
no momento descansando, mas fazia o Caminho de modo lento,
mais contemplativo. Este me parecia que estava curtindo o
Caminho. Em León, na catedral e em outros locais da cidade,
encontrei um casal de brasileiros, que também estava fazendo o
Caminho de forma lenta, com senso de observação bem aguçado.
São contrapontos bem esclarecedores, mas que dizem que o
ciclista também pode fazer o Caminho de uma forma que possa
extrair grandes aprendizados e não só condicionamento físico.
Como ciclista, apesar de ter pouco tempo para realizá-lo,
procurei fazer de uma forma não excessivamente veloz. Seguindo
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Itamar Oliveira Vieira