Página 107 - Olhar Peregrino paginadaOK4

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or três vezes estive nos campos e cidades sob a Via Láctea.
Por três vezes engrossei a procissão secular, subindo e descendo
montanhas, amassando barro, abraçando minhas fraquezas e
angústias duvidosas por entre prados emais nada...
Aqueci minha alma com o sol que escurecia minha pele,
lavei meu choro com a chuva, pus-me de joelhos para enxergar o
invisível, verti sangue para saciar minha sede piedosa de mim
mesmo.
Conversei com meus pensamentos, lutei com meus
impulsos e dancei a volúpia do movimento de meus sentimentos.
Fui santo, quando rezei; fui humano, quando me despi de todos
meus recatos e me tornei animal, doce e feroz, em busca de minha
sobrevivência.
A despeito da crença do crescimento durante o caminhar,
pergunto aos meus passos com o que eles contribuíram para
minha melhoria, enquanto ser. Ouvi meu cansaço, meu mal estar,
meumau humor, meu desconforto, meus encontros. Emuníssono,
tive como contraponto que a alegria, o carinho, o gesto amoroso, a
gentileza e a generosidade explodem em milhares de estilhaços
dentro do peito e me fazem corajoso para o incerto momentâneo.
Por quanto tempo? Por toda a vida, pensei . Até que,
manhosamente, volto ao conforto do velho conhecido eu. Mas, e
todo o sofrimento, a nova arquitetura emocional? Fragilizou-se no
primeiro outono. Pois o músculo só endurece com a constância do
exercício, congurando-se em novos espaços, que, se não
continuarem ocupados, despencam para a morbidez do sempre
igual.
Fomos concebidos, a princípio, para a felicidade. Mas, isso
exige um merecimento: devemos consegui-la. Na gerência de
P
O que uma pessoa leva do
Caminho de Santiago?
João Batista Sernaglia