Página 111 - Olhar Peregrino paginadaOK4

Versão HTML básica

ra uma manhã como todas as outras, o sol adentrava na
janela e ouvia-se o barulho rouco de pertences sendo embalados
em mochilas coloridas. O corpo doído reclamava mais uma hora
de descanso, mas todos se levantavam e o burburinho não ia mais
deixar ninguém em paz, sem dizer que já dava para sentir um
delicioso cheiro de ovo frito na manteiga, perfume matinal, para
corpo dolorido e pés cansados.
Na tarde anterior, eu caminhara por uma linha innita, cor
bege, às vezes âmbar, vendo árvores com galhos retorcidos que
pareciam ter unsmil anos, quemsabe, muitomais, que enredavam
meus pensamentos.
Na linha do horizonte, aquelas construções em pedra, tão
longe no tempo (quem havia empilhado com tanta destreza
aquelas pedras?), eramantigos abrigos oumenires de povos celtas
a entoar inebriantes cantigas. Quantos peregrinos haviam
palmilhado aquele caminho, bárbaros, romanos, quanta fé movia
tanta gente, formando um elo de energia que, pela perseverança,
marcou fundo na pedra, deixando rastro de pegadas? Sinto isto
hoje, vivencio hoje este maravilhoso espetáculo da natureza.
Agora, compreendo por que, em Nájera, assim escreveu Dom
Eugênio:
“Tudo vejo ao passar
E é um gozo ver a tudo,
Mas a voz que me chama
A sinto muito mais fundo”
É a força a me empurrar
É uma força que me atrai
Mas, nem mesmo eu,
A consigo explicar”
Pedras no Caminho, pepitas de
ouro no coração
E
José Carlos Toledo Junior