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Havia cruzado os reinos de Espanha, desde antes das
terras de Navarra onde vi prostrados lado a lado, como se
dormissem na catedral, as alvas estátuas D'el Rey Carlos e sua
amada Leonor.
Havia saboreado o doce vinho de La Rioja e, mais além,
atingido vastos campos e coxilhas em Burgos por onde “El Cid”
esporeava seus cavalos, emhábeis cargas de cavalaria, levando em
suamão direita a justiceira espada Tizona del Cid.
Aquelas intermináveis planícies, todo aquele tortuoso e
maravilhoso caminho havia ressoado sob o arco demeus pés.
Sentado ali, naquele ponto do universo, duro como um
basco, agora já não preciso de carro, não preciso de fogão, não
preciso de sofá e nem de televisão. Tudo de que necessito agora
neste mundo, tem a exata medida de sete quilos e meio, que eu
desfaço e volto a refazer todos os dias.
Havia aprendido a resistir ao cansaço, ao sono, à tendinite,
às tempestades, a solidão e ao sol, andando, vendo o sol nascer a
despontar os primeiros raios de luz, sentado agora debaixo desta
árvore, de repente me vi - um simples grão de sal no mar, um
pequeno grão de areia no insondável universo.
Havia desnudadominha alma e enxergado a divindade no
eco da natureza, agora sou luz. Foi quando, com o farfalhar das
folhas ao vento, ouvi o murmurinho do meu anjo da guarda que
sussurrou baixinho em meu ouvido: “- Agora o mundo é sua
casa”.
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Olhar Peregrino