Página 113 - Olhar Peregrino paginadaOK4

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ara muitos o
treking
,
hiking
ou a nossa prosaica caminhada
não são esportes recomendáveis para idosos. Anal, jornadas de
vinte a trinta quilômetros por dia - por vezes sob sol abrasador -
ou, pior ainda, debaixo de chuvas torrenciais, não são prescrições
que qualquer geriatra recomendaria a seus pacientes. No entanto,
é cada vezmaior o número de integrantes da 3ª idade que percorre
trilhas, tanto no Brasil quanto no mundo. No Nepal, é
impressionante ver a quantidade de respeitáveis cidadãos com 60,
70 e até 80 anos enfrentando galhardamente as íngremes trilhas
que, saindo de Pokara ou Katmandu ascendem a três ou quatro
mil metros, para chegar a lugares remotos, habitualmente só
frequentados por peritos em escaladas como os
Base Camps
do
Everest oudoAnapurna.
O que leva uma pessoa que passou grande parte da sua
vida dentro de um escritório a participar desta aventura
extraordinária, enfrentando trilhas poeirentas, refeições precárias
e abrigos rústicos? É difícil generalizar, mas certamente a
inquietude da alma humana, a insatisfação permanente com
aquilo que cerca nosso cotidiano temmuito a ver com isto.
Quero registrar aqui a história de uma dessas pessoas
extraordinárias. Trata-se de Julia, uma mulher de 76 anos com
quem cruzamos várias vezes, enquanto Mila, minha esposa, e eu
avançávamos pelo Caminho Português que nos levaria de Braga,
Portugal, a Santiago de Compostela, na Espanha.
Encontramos Julia repousando debaixo de uma frondosa
árvore à beira de um riacho, logo depois de Ponte de Lima, uma
das primeiras etapas do Caminho. A tarde estava muito quente e a
sombra era ampla, portanto paramos para esfriar a cabeça e
descansar umpouco.
Peregrinando por aí
P
José Gentil Schreiber