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chegada em um só idioma. Do abraço ao Santo. Do
botafumero
e do
canto da freira soprano na Missa do Peregrino. A explosão e o
choro da alma. De Finisterre. Da partida de volta para casa.
A história, envelhecida, retornava agora de maneira
nutridora e consciente em seu ser e aos poucos desenhava na sua
mente um Santuário, de minúcias góticas construídas sob a visão
medieval nascida na borda de uma era quando se tentava alcançar
com as alturas de suas catedrais o estar mais perto de Deus,
transformando espaços escuros em luz, obtidos com janelas,
vitrais e esplendorosas rosáceas.
A luz entra e toma seu lugar simbólico na vida do ser
humano, pensava. A luz!
Não lhe acontecera algo semelhante? Toda a imagem
construída sobre ela mesma estava ligada aos seus primeiros
relacionamentos, aparência física, papel, carreira, padrões sociais
e culturais, e por aí afora. Na verdade, ela era a soma de todos eles.
Era a soma de todas as suas escolhas. Ainda assim, permaneciam
perguntas lá no fundo, escuro: quem realmente era? Quem tinha
sido no processo do caminhar um longo caminho como o de
Santiago de Compostela ou no caminho, também longo, da sua
vida?De que forma fora construído seu templo interno?
A rosácea permanecia apontando o caminho majestoso
das cores e formas de um mundo interior riquíssimo e ao mesmo
tempo lotado de imperfeições.
As dores, aições, medos e desaos foram tijolos e pedras
na sua formação de base como um ser espiritual que vive uma
experiência humana.
Também como o artista medievo deixara entrar réstias de
luz na sua consciência, no seudespertar tantas vezes sofrido.
Enumerava devagar os variados trabalhos embusca de luz
para sua consciência: há tempos, alguém lhe mostrara o caminho
antiquíssimo dos ensinamentos orientais com a meditação,
respiração, artes marciais. Até socorreu-se com a assistência
psicanalítica e psicológica. Foram tantos caminhos usados para
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Olhar Peregrino