Página 134 - Olhar Peregrino paginadaOK4

Versão HTML básica

Nos primeiros dias, sempre antes de iniciar cada trecho, eu
olhava para os céus europeus e me perguntava: 'Senhor, o que
estou fazendo aqui? Por que estou aqui? Por que estou fazendo
isto commeu corpo?Oque isto vai agregar emminha vida?'.
Não demoroumuito para eu obter respostas, sendo que em
nenhum momento permiti que meus pensamentos fugissem do
objetivo maior, que era vencer a longa estrada que me levaria até a
Catedral de Santiago de Compostela. Foi quando entre um espaço
de tempo e outro, percebi que minha alma e meu corpo estavam
vivendo e sentindo um universo que até então era desconhecido,
pois a vida e as pessoas que estavam comigo já não eram mais as
mesmas. Isto me fez reaprender a viver e a conviver com situações
inusitadas, pensamentos compartilhados e com os novos amigos
no caminho.
Os dias foram passando e fui descobrindo que no próprio
Caminho estavam as respostas de cada um dos meus
questionamentos. Sendo que, ao chegar ao m de cada dia, eu
sentia minha alma leve e tranquila. Nestes momentos, percebi e
acreditei que tudo pode acontecer e o inesperado sempre aparecer.
Ao passar dos dias, eu podia sentir que o Caminho já não
era mais o mesmo; mesmo sentindo o peso da mochila e a falta de
aconchego, já percebia que algo novo já existia dentro mim e de
todo o grupo. Então lembrei de olhar para trás e relembrar o início,
quando resolvi viver e acompanhar o meio e car de olhos bem
atentos para o novo que estava por vir.
Um grande feito deste caminho foi a sobrevivência do
grupo do qual eu fazia parte, conhecido como Grupo dos
Marimbondos (nome de uma cachaça), que iniciou e terminou o
Caminho junto. Isto signicou uma grande vitória, pois se ouvia
muito nas histórias das peregrinações a Santiago de Compostela
que, em cada quatro ou cinco peregrinos que iniciavam o caminho
juntos, sempre havia um ou mais que se desgarravam. Sem
esquecer que a cada nal de um trecho percorrido do Caminho, eu
e o grupo sempre comemorávamos como uma grande conquista.
134
Olhar Peregrino