Página 146 - Olhar Peregrino paginadaOK4

Versão HTML básica

Ao terminar nossos alimentos, contamos com as árvores
doCaminho que nos oferecessemseus frutos. A ideia era abastecer
as energias e compartilhar com os outros peregrinos: uvas, gos,
laranjas, maçãs, peras, marmelos, amoras, kiwis, tomates e romãs.
Fizemos bons amigos! Lembro do jovem casal de alemães:
Udo e Ana que pegaram “carona” com o foco da nossa lanterna na
saída do albergue de Tuí. Era escuro quando iniciamos a
caminhada e nossa lanterna tinha um alcance maior para
visualizar as setas amarelas meio apagadas, entre as estreitas ruas
daquela cidade. Trocamos alguns e-mails e camos sabendo que o
romântico Udo escondia o anel com o qual pediria Ana em
casamento no m da Caminhada. Mais tarde, soubemos que não
foi emSantiago de Compostela o pedido, mas 90 quilômetros além
da chegada, emCabo de Finisterra, olhando para o horizonte, num
entardecer inesquecível.
Conhecemos também dois irmãos portugueses, que
sempre sonharam em fazer o Caminho juntos; mas depois que
casaram, cou mais difícil programar a viagem. Um deles se
aposentou e o outro cou desempregado, então acharam
oportuno o momento para realizar o velho sonho. Lá estavam
chacoalhando seus canecos de alumínio pendurados nas mochilas
sempre que cruzavam com a gente. Também lembro de um
advogado carioca que, faltando pouco para chegar a Santiago,
torceu o pé e teve que pedir a uma amiga que morava nas
proximidades de Santiago para ajudá-lo a terminar o caminho, de
carro.
Outra gura que marcou a nossa viagem foi a simpática
espanhola Júlia, que se hospedou com a gente no albergue de
Barros. Participamos juntos do ritual do “conjuro” oferecido por
um casal maravilhoso que cuidava do local. Ele, paralítico desde
os catorze anos, já tinha feito o Caminho completo pela rota
francesa em cadeira de rodas: uma parte sozinho e outra com o
auxílio da esposa. Eu acredito em anjos, e ela foi um dos que
encontrei durante a minha jornada. Além de ter toda a minha
146
Olhar Peregrino