Página 151 - Olhar Peregrino paginadaOK4

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Durante o tempo em que andei pelo Caminho de Santiago
de Compostela, pude perceber que os dias nunca eram iguais.
Desde trilhas, povoados e tudo que fazia parte dele, tudo era
diferente a cada dia que passava, principalmente meu estado de
espírito. A cada dia, eu amanhecia com novos pensamentos e
determinações, procurava começar cada dia com mais vontade,
procurava explorar mais, aproveitar mais cada momento, cada
paisagem. Porém, como já havia percebido quem comanda tudo lá
é realmente ele: “O Caminho”, é ele o professor e, como ninguém,
sabe a hora certa de nos testar, quando menos esperamos, ele nos
coloca em situações e sem que percebamos voamos para certo
ponto especíco de nossa vida; é como se aquilo tudo tivesse que
ser passado a limpo, algo para ser recordado, para ser reanalisado
e melhor entendido. O tempo cura tudo e assim também dá outra
roupagema determinados fatos.
Pode não parecer, mas muitas cenas que caram gravadas
emnossa mente com relação a certa situação vivida ou sentimento
sobre algo, ali se explicam, ali são vistas de outra maneira. Nos
apercebemos de detalhes nunca antes notados, como se só então
fossemnecessários ser apresentados ou percebidos. Nos deixamos
levar pelo que queríamos, pelo que achamos ser correto na época,
ou simplesmente porque assim nos seria mais favorável, a
verdade nos é retratada novamente, coisas que já nem nos
lembrávamos mais, mas que, mesmo sem recordar delas, ainda
nos incomodam e nos causam terrível mal. E é ai que entra o
'professor Caminho', nos mostrando que sem isso ou aquilo
seriamos melhores e muito mais felizes, tarefa essa difícil de
aceitar. Mudar causa transtornos, melhor deixar como está,
pensamos.
Depois de uma grande batalha travada em nós mesmos,
somos convencidos e nalmente nos curvamos diante da situação
e consertamos o que estava errado.
Na maioria das vezes não agimos livremente, nossos
dogmas nos freiam, somos moldados pelas convenções, pela
família, oupor uma sociedade balizadora dos bons costumes.
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Osvaldo E. Hoffmann