Página 171 - Olhar Peregrino paginadaOK4

Versão HTML básica

á se passaramquinze anos domeu caminhar por Santiago,
mas o Caminho ainda não saiu de mim. Foi um longo espaço de
tempo e de quilômetros percorridos.
Hoje, revejo as fotos cuidadosamente organizadas no
álbum, revelando em suas páginas cada etapa vencida naquela
distante primavera.
Experimento alguns passos com o cajado em punho... O
mesmo bordão recebido de umgrupo de peregrinos, emPuente La
Reina. Nomeu andar, parece que reencontro a graça da amizade.
Exponho ao sol a mochila e seus apetrechos, aumentando
emmima vontade de sumir ao léu, na busca demais verdades.
Sinto o orgulho da credencial plena de carimbos e dos
diplomas que certicam, como vitória, cada parada.
As lembranças todas que trouxe agasalham em mim a
saudade dos bons tempos que passei.
Toma-me a vontade de contar aos outros toda a vivência
sentida. Infelizmente, não consigo traduzir em palavras tudo
aquilo que estava guardado na minha alma. Nos momentos
culminantes emque a dor vaziame devora, ponho-me a caminhar,
atravessando as ruas em que me treinara para a viagem. O andar
me faz lembrar o sonho que vivi, além de me distrair a visão.
Atravesso morros, olhando o verde da vegetação. Avisto o mar
que, às vezes, mistura a sua cor coma cor do céu, quando ambos se
vestem de azul. Outros tons de cores ainda me recordam a
primavera, trazendo para perto de mim o gorjear da passarada
invisível. O sorriso das pessoas nas ruas que trilho agora exibem a
mesma dimensão que antes via nos lábios dos hospedeiros que me
recebiamno nal de cada jornada.
J
Alma lapidada pelos personagens do
Caminho de Santiago
Sérgio Rubens Garcia