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Olhar Peregrino
Concluída essa etapa, me apercebi de que os cuidados
voltados para os preparativos foram gradativamente engajando-
me ainda mais ao compromisso e ao signicado desta longa
caminhada.
Enm, tem início a viagem. Eu já havia feito outras
viagens, em sua maioria cercada de conforto e
glamour
. Esta,
porém, era diferente: nada de conforto e muito menos
glamour
,
tudo era rústico e cercado de diculdades. Acomodações coletivas
contrastavam o tempo todo em minha mente, sem nenhuma
privacidade, tanto para homens como para mulheres, tanto que,
após uma semana de caminhada, eu jáme sentia uma peregrina.
As paradas para descanso e alimentação apresentavamum
misto de prazer e dúvida. Por toda parte tinha algo pra comer,
lembro-me dos
bocadillos
, das sopas, tudo muito simples e
saboroso, sempre regados a muito vinho. E, neste ponto, diante da
simplicidade das condições e do trato com as pessoas, me ocorreu
fazer o quarto registro: 'Lá estava eu iniciando um reencontro
comigomesma'. Desdobramentos nomeu íntimo, conduzindo-me
a permanentes reexões. Onde foi que eu me perdi? O que eu não
vi e não vivi? Porque me deixei car num segundo plano? Quem
anal eume tornei?
A caminhada seguia e apresentava várias situações no
mínimo intrigantes. Lembro-me de umdia demuita chuva, tempo
fechado e pouca visibilidade, em que eu buscava a marca
indicativa do trajeto a ser seguido e o que se apresenta diante de
mim?: Uma rua com o nome do pai dos meus lhos, um nome
nada comum, em pleno Caminho, na Espanha. Nova situação:
camas e armários eram numerados e, diante de uma absoluta e
inexplicável coincidência, os números em sua maioria, coincidiam
novamente, com o número de sorte dele, trazendo incômodas
lembranças e conduzindo-me ao quinto registro: 'Achei que nunca
iame livrar do pesadelo'.
E assim foram os primeiros trinta dias de minha
caminhada. Eis que no 31º dia, z um percurso de vinte e cinco