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Olhar Peregrino
você já está feliz, mais uma vez. Isso é oCaminho. Isso é o que te faz
caminhar e achar que nada é sacrifício, mas tudo é uma missão,
tudo vale a pena.
A Cruz de Ferro, para mim, é um dos lugares mais
signicativos do Caminho. É onde as emoções aoram mais
intensamente. É um lugar simples, com uma cruz de ferro e uma
montanha de pedras levadas pelos peregrinos ao longo dos anos,
inclusive a minha que levei da Igreja. Mas, ao mesmo tempo, é um
lugar místico, onde as pessoas têm uma expressão diferente, onde
as pessoas camdiferentes. Não sei explicar.
Eu adorei estar lá. Não acreditava que tinha enmchegado
o dia e eu estava lá, parecia um sonho. Tinha vontade de car ali o
dia inteiro, só observando as pessoas; mas, no Caminho, a gente
tem que caminhar. Então z as minhas orações, agradeci muito o
privilégio de estar ali, e chorei de emoção, assim como a maioria
dos peregrinos que por ali passavam. Depois saí cantando a
música “A Montanha”. Fazia anos que não cantava esta música,
mas cantei muito naquele dia. O dia de caminhada depois da Cruz
de Ferro foi, com certeza, o trecho mais lindo do caminho inteiro.
Não sei se pela paisagem, ou se pelo meu estado de espírito leve e
feliz. Agora ameta era aCatedral de Santiago de Compostela.
Depois de trinta e um dias de caminhada, a jornada estava
terminando. Na última noite como peregrina, eu e minha amiga
camos num hotelzinho a dez quilômetros da Catedral. Não
dormi naquela noite: eu não acreditava que já estava terminando.
Tentei reconstituir o Caminho inteiro naquela noite. Era muita
emoção, tinha acontecido muita coisa naqueles dias. Tinha
encontrado muita gente, e agora estávamos - eu e minha amiga -
sozinhas naquele lugar e só faltavam dez quilômetros para
chegarmos ao nosso destino, não dava para acreditar. Impossível
dormir.
Levantamos as sete da manhã e saímos para o último dia
de peregrinação, sob uma chuva na, e o coração apertado. Eu não
conseguia falar nada, minha amiga também não. O momento era