Página 187 - Olhar Peregrino paginadaOK4

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de concentração. Caminhava bemdevagar, queria aproveitar cada
minuto daquele último dia. Éramos - minha amiga, eu, a chuva e o
Caminho -, sem palavras: só pensamentos e um sentimento meio
estranho. Agora, no nal, eu estava com medo. Como seria o dia
de amanhã, semas setas amarelas?
Duas horas depois, chegamos na cidade. A chuva tinha ido
embora e, para nossa alegria, o sol apareceu. Eu estava muito
emocionada, faltavam apenas quatro quilômetros, entre as ruas
movimentadas de Santiago. A sensação era estranha, e eu não
conseguia parar de chorar. Não cansava de agradecer a Deus por
ter chegado, assim tão bem, semmaiores problemas, sem calos ou
bolhas, semdores.
O momento em que avistei a torre da Catedral, entre os
prédios, foi emocionante, pois foi a primeira prova concreta de que
o Caminho estava realmente terminando. Minutos depois lá
estava eu, de frente para a Catedral, linda e imponente. Por alguns
segundos quei paralisada. Depois, meio incrédula, ainda não
conseguia parar de chorar. Lá, tudo nos emociona. Cada peregrino
que reencontramos é uma festa e uma emoção muito grande, pois
para todos o sentimento é o mesmo. A emoção de chegar. Enm,
era hora de largar a mochila, companheira inseparável dos
últimos dias, pegar a credencial, descansar, agradecer, rezar... Sei
lá! A gente ca sem saber direito onde ir, ou o que fazer, onde
olhar. Uma loucura! Um sonho realizado! Imperdível entrar na
Catedral, participar da missa dos peregrinos, com o
botafumero
e o
anúncio da nacionalidade dos peregrinos que concluíram o
Caminho no dia:
“Vindas desde Saint Jean Pied-de-Port: duas brasileiras.”
Como não emocionar-se? Impossível. Chorei outra vez.
O Caminho nos ensina principalmente o exercício do
desapego, a viver de forma mais simples, e entender que a gente
precisa de muito pouco para ser feliz. Aprende-se a buscar forças
em pequenas coisas, em pequenos gestos. E, nesse espírito,
passamos a entender a importância monumental de um sorriso de
Sueli Roberti Cristofolini