Página 189 - Olhar Peregrino paginadaOK4

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or que aniversario no dia de Santiago, desde muito jovem
conheço a história do santo e o que é o Caminho de Compostela.
Isso fez com que um sonho casse em mim por muito tempo. Até
os cinquenta anos. Meses depois completá-los, a realização.
Até Pamplona, uma boa viagem. Daí a Saint Jean Pied-de-
Port, uma quase aventura. Ônibus até Villaba, longo trecho a pé,
carona providencial até Roncesvalles, novo trecho a pé para além
de Puerto Ibañeta, outra carona emalgumponto do outro lado dos
Pirineus. Nessa, uma coincidência. Umcarro comespanhóis e seus
parentes brasileiros: um casal da Lagoa da Conceição; ela, Belém,
paraguaia morando aqui. Após o primeiro dia de caminhada, não
mais nos vimos. Gente que chega, gente que vai e é assim mesmo
noCaminho.
Mas, como disse, aos cinquenta anos, o Caminho de
Santiago. Por que ir? Ou para que ir? Qual o motivo? Difícil
responder. Tanto quanto responder ao tradicional e ancestral 'de
onde vim?', 'para onde vou?', ou o losóco 'quem sou eu?'. Mas o
fato é que a gente vai.
Vai-se porque, alémde umsonho, parece que umchamado
acontece. Chamado que ninguém escuta, ninguém nota, apenas
sente-se. É um chamado interior, que só a própria alma ouve. De
vez em quando chama, depois vem o silêncio, tempos mais tarde
volta-se a ouvi-lo.
Parece que, a partir de certo momento, o Caminho chama
as pessoas. Não todas que por lá passaram, muitas foram
cumprindo outros desígnios e obrigações, mesmo assim,
certamente, não forampoucas aquelas que seguiramum chamado
interior, anal oCaminhoexiste hámais demil anos.
A vida vai passando, vai sendo vivida e - como está escrito
no velho Eclesiastes (3,1): “
tudo tem seu tempo determinado, e há
tempo para todo propósito debaixo do céu...
” -, umdia acontece.
P
Um certo olhar
Suenon Ma a Pinto