Página 27 - Olhar Peregrino paginadaOK4

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caminharia 780 quilômetros. Num relâmpago, pensei, cou doida
e perguntei-lhe sem hesitar: todo o caminho a pé? Sem nenhum
subterfúgio? Carregando uma mochila de seis quilos às costas? E
ela respondeu. Sim, o que meu corpo permitir, do meu jeito e no
meu tempo. Naquele momento não hesitei e pensei com os meus
botões: 'émuito para aminha cabeça'.
Entre risos a nossa conversa não parava, enquanto
produzíamos trabalhos para o Grupo Arcos, instituição na qual
somos voluntárias na área da preservação do patrimônio cultural
emBiguaçu (SC). No silêncio damadrugadaminha cabeça conecta
não com que estávamos fazendo em dupla, mas com a forma de
como a história de São Tiago e da cidade patrimônio pela
UNESCO, mais uma vez, bate a minha porta. Mesmo
considerando doida a coragem de minha amiga em percorrer
tantos quilômetros a pé, penso calada que um dia também faria.
Faria? Mas não a pé como ela, pois só de pensar na aventura meus
pés já estavam doloridos e os sapatos rotos. Aliás nem passava
pela minha cabeça que para fazer o Caminho há roupas e sapatos
especiais, para ummaior conforto.
O trabalho continua e a madrugada é longa. Continuo no
meu pensamento solitário. Provavelmente faria o caminho de
carro, para percorrer o maior número possível de cidades e ainda
ter a opção de escolha no sentido de optar por aquelas quemaisme
identicasse, considerando as suas histórias, vivências cotidianas,
celebrações e manifestações culturais, enm percorrer suas
entranhas sem cobrança aparente e me deixar levar pelas
observações relativas à paisagem e sem escapar é claro do contato
com o seu patrimônio material, pois no voo da imaginação é o que
me toca. Ademais não estou à procura de nenhum caminho
pessoal.
Assim, no meu pensamento, justico naquele momento o
traçado do meu “caminho interior”, para um dia, quem sabe,
chegar a Santiago e ter contato de pertinho coma história do Santo,
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Ana Lúcia Coutinho