Página 59 - Olhar Peregrino paginadaOK4

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Durante a festa reconhecemos vários peregrinos, o que não
era muito difícil, pois suas roupas eram diferenciadas e
amassadas; os pés, em suas sandálias, com dedos e calcanhares
enrolados em curativos; de ar cansado e o manquejar de uns
poucos. Edgard e eu já tínhamos nos distanciados dos
companheiros italianos e espanhóis com quem traváramos
conversas quando da chegada em San Jean Pied-du-Port. Jovens e
rápidos, deixaram-nos para trás. E ali, nós peregrinos,
entreolhávamo-nos, saboreando aqueles momentos, inseridos
num ambiente novo, ouvindo canções que falavam sobretudo da
unidade cultural de umpovo.
Além da diculdade da comunicação entre nós
estrangeiros, pois falávamos idiomas diferentes, o som na praça
era tão alto que impedia qualquer conversa. Mas a apresentação
foi tema nos dias subsequentes quando os contatos iam além de
simples trocas de informações e, invariavelmente, o comentário
era sobre a energia, o vigor com que a cantora e os músicos
empenharam-se emcantar.
Foi uma noite especial entremuitas outras que Edgard e eu
vivenciamos no Caminho. Não conversar com os bascos no seu
próprio idioma diminuiu o brilho, mas aguçouminha curiosidade
sobre a música basca e os instrumentos usados naquela noite.
Entre outros conhecidos por nós latinos, destaco o
trikitixa
, em
basco, um acordeão diatônico, sempre acompanhado de
pandeiro-; o
txalaparta
, instrumento de percussão tradicional o
txistu
, em basco, ou Chistu, em espanhol, que é, uma espécie de
auta com três orifícios, tocada com a mão esquerda, deixando a
direita livre para tocar umpequeno tambor ouuma campainha.
O Caminho de Santiago de Compostela pode apresentar
muitas facetas e pode ser muitas coisas para cada peregrino. Neste
episódio, para nós, foi puramente cultural. Aprendemos um
pouco mais sobre um povo cuja luta continua, agora não mais
armada: em 2011, quando caminhamos pela primeira vez por
aquelas terras, o ETA -
Euskadi Ta Askatasuna
(Pátria Basca e
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Deuci Luiza Stefanelli Fernandes