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Pamplona, mais o último trajeto, de ônibus. Estávamos exaustos
porque passeamos por Pamplona o dia todo, enquanto
esperávamos pelo transporte. Receosos de não encontrar
alojamento àquela hora, andamos rápido de lá para cá, o que,
somado à noite e ao dia cansativo, provocou a elevação da pressão
arterial de Edgard. Foi muito assustador e impediu nossa subida
caminhando pelos Pirineus, na manhã seguinte. Um táxi nos
conduziu até o alto e então experimentamos a descida num total
silêncio, cortado apenas por nossas vozes de admiração pela
névoa, o verde das muitas árvores, a paisagem ao longe, quando o
sol vencia a neblina.
Andar novamente pelo Caminho Francês foi emocionante
pelas recordações, por descobrir coisas que passaram
despercebidas, por vivenciar novas experiências e situações. E
notar algumas diferenças entre andar em grupo, mesmo que
pequeno, e a dois, sendo nós um casal de tão longa convivência,
quase 46 anos. O prazer, a aventura, o desconhecido, novos
relacionamentos, tendinite, bolhas,
chinches
(percevejos). Todo o
pacote se sucedeu. Se houvesse espaço, muito poderia ser escrito.
Caminhar para mim, onde quer que seja, é uma excelente
oportunidade para falar com Deus. Começo agradecendo pela
capacidade física, detalhando cada parte do meu corpo: pernas,
coluna, pés, olhos, nariz etc. É uma dádiva usar todo este
complexo chamado corpo numa atividade tão prazerosa.
Observar a beleza que a Natureza nos proporciona é mais um dos
motivos de agradecimento. E o próximo - aquele do qual fala o
primeiro mandamento bíblico - ocupa bom tempo nas minhas
orações, seja para reconhecer que falhei, pedir perdão a Deus e
depois a quem magoei, seja para agradecer tanto amor e
dedicação.
Quero aqui fazer uma ressalva quanto ao meu recente
falecido marido. Mesmo sendo sedentário e muito acima do peso,
ele se empolgava a cada novo convite. O planejamento nas três
vezes que fomos ao Caminho foi minucioso e facilitou muito, até
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