Página 75 - Olhar Peregrino paginadaOK4

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Ensinavas-me e eu aprendia, senão pelo meu próprio
perceber, também pela abordagem de alguém que nos percebia, e
que chegava dizendo que de vocês, meus Cajados, eu precisava
fazermelhor uso.
Compreendi que, além do chão que eu considerava
sagrado, eras eu mesma ali, junto a tantos peregrinos, os
conhecidos ou os trazidos à convivência por ti, juntando pés no
mesmo andar, olhares àsmesmas paisagens, sorrisos semnenhum
motivo, senão o de expressar o prazer de sermos simplesmente
livres; aprendi que não forampor acaso os falares espontâneos, ou
os silêncios capazes de comunicar o que palavra alguma poderia
fazê-lo. E aprendi que estava possível, anal, encontrar-me a sós
com esta minha alma, peregrina de tantas décadas no próprio
tempo. De tal forma que podíamos, todos juntos, perdoar-nos,
corrigir-nos, conformar-nos... Ou admirar-nos e encorajar-nos.
E com o passar de tantos dias, fomos nos tornando
testemunhas das palavras de Paulo sobre a “força da fraqueza”!
Era o vigésimo terceiro dia, quando te percorri, subindo e
subindo, horas seguidas, até o mágico Cebreiro, como se falasses
através do silêncio e do vazio pleno entre as montanhas, me
fazendo compreender que não me encontrava ali somente para
dar o último toque de verniz na tela da vida, como fora a intenção
inicial; me dizias que era muito maior a razão dos passos, meu
Caminho: tinha que aprender como melhor usar os tons e nuances
do tempo e enriquecer a própria obra daVida.
Corroborando o pensamento do dia anterior, Caminho,
neste pude ouvir o bem humorado Padre Augusto, na pequena
igreja de Triacastela, enumerando os diferentes motivos que
justicam peregrinar-te, aqueles motivos por que foram levados
desde os ingênuos até os céticos, dos egoístas aos solidários, dos
conscientes aos nem tanto, mas todos os buscadores, até de
somente aventuras ou de novos palcos para fazer valer ou
compensar seu eu dominador. Quais motivos são os certos? Todos
os que sejam expressão de uma verdade ou de um sonho,
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Elizete Ana Chissini de Castro