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rumo leste ou oeste. Por brincadeira eu disse: “Vamos ver se há
alguma carta para nós.” Havia uma, sobre outras amareladas pelo
tempo. Fora escrita por Francesca, italiana, e por Lieselotte, alemã,
peregrinas que andaram conosco por uns dias. Citando nossos
nomes, desejavam-nos
¡Buen Camino!
, e esperavam encontrar-nos
à noite, no próximo albergue. Ainda, conservo o bilhete-carta,
entreminhas fotos.
Também Cáceres é cons iderada Pat r imônio da
Humanidade por seu passado romano e por seus palácios, igrejas
e sua catedral gótica construídos nos séculos XV e XVII. Lá,
encontrei um casal peregrino alemão com quem mantenho
contato até hoje, pois construímos um laço afetivo inexplicável.
Eles estavam terminando ali sua peregrinação para retomá-la na
mesma cidade, umano após.
Muitos dias caminha-se por demasiado tempo - três ou
quatro horas - sem que se possa ver uma só árvore, só campos
desertos e, de quando emquando, umcapoeirão de pouca sombra.
Este é um fator crítico, pois não há vila, casa ou bar onde se possa
adquirir água ou mantimentos. Isso cria uma tensão adicional,
inuenciando o ânimo dos peregrinos.
Outras cidades de razoável tamanho são Salamanca,
Zamora eOrense, importantes do ponto de vista histórico, cultural
e econômico. Porém, as pequenas cidades e vilas ao longo do
Caminho, principalmente as mais antigas, tem características
peculiares e igualmente atrativas.
A partir de Zamora, pode-se ir em direção a Astorga, ao
norte, e terminar a peregrinação pela Caminho Francês. Outra
opção é seguir para Ourense, a noroeste, e chegar a Santiago de
Compostela pelo sul.
E foi à saída de Ourense, já a 105 quilômetros do nal da
caminhada, que tive meu único contratempo. Subi em passos
rápidos uma montanha de aclive acentuado. Meus companheiros
gritavam para que eu diminuísse o ritmo. Tão bem eu me sentia,
que não dei ouvidos. Antes o tivesse feito. Ao nal da tarde senti
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Olhar Peregrino