Caminho Real II

Autor: Jairo Ferreira Machado

Não se perguntou se queria ir

Foi-se pelas gerais afora

Caminhar o Caminho Real

Casa Grande, Lagoa Dourada

As botas pisando o chão, Prados, Tiradentes

São João Del Rey, rei também

Nos baixadões, nas subidas, nas descidas

Um escorregão aqui outro acolá

Caquende, Carrancas, Capela do Saco

No chão dos seus olhos

O ouro se faz diamante

Traituba, pousada do Dutra

Aranhas, artimanhas, morcegos voam

No caminho, caminhões à revelia, cortesia

Cruzilia, encruzilhadas, pinguelas, córregos

Águas minerais, Caxambu, São Lourenço

Todos os santos vêm ajudar

Às vezes os totens atrapalham

E nos manda pra outro lugar

Bois, cães sentinelas, Minas Gerais

Lá vai a seriema morro acima

Tagarelam além as maritacas

Pousados sobre as estacas das cercas

Piam alegres os gaviões

Gorjeiam cá os galos do campo

Santana do Capivari, Passa-Quatro

Nos trilhos da Maria-Fumaça

De brincadeira, lá vamos todos nós

Entoando uma cantoria

Serra da Mantiqueira ficando pra trás

Túnel do sofrimento, escuridão

Lembranças dos tempos idos

Muitos homens ali morridos, Passa-Vinte

Guaratinguetá, Guará

Templo do Frei Galvão, benção

Santuário de Nossa Senhora Aparecida

Agradecimentos, oração

O vale do rio Paraíba lá distante

Na Fazenda São Francisco

Cansados, fazemos pousada

Às margens da floresta encantada

Deliciamos abençoada sopa

Serra da Bocaina, roça, enxada, cabo

Cunha, no pico do morro

Pobres de nós, ricos de nós: Sotaque Mineiro

Música ao vivo, vinho, pinhão

Já imaginando Paraty aquém-mar

No mar de nossos olhos

A Serra do Mar, pedregulhos, rochas

Mistérios, beija-flores entre flores mil

Iridescentes elas vão e vem

Riachos, cachoeiras, ladeira abaixo

Canta longe a Araponga-macho

De cá o outro responde o cio

Pousada quatro ventos

Brisa do mar, barco furta-cor

Lá vamos nós mar afora

Os pés já sem as botas

Descansando da lida

As mochilas enfim recolhidas

Para algum outro destino

As lembranças batendo no coração…