Circuito Vale Europeu. Relato de José Claúdio Fróes de Moraes

CAMINHO DO VALE EUROPEU – EDIÇÃO 2019

Para executar a primeira programação externa da Diretoria recém eleita, partiu-se do Terminal Cidade de Florianópolis às 13:00h com destino a Indaial, ainda arrebanhando peregrinos na saída da Grande Florianópolis e na passagem por Balneário Camboriú. Além da natural e sadia euforia de reencontro ou conhecimento de peregrinos, impressionou o congestionamento do trânsito na BR 470 em duplicação e a quantidade de lojas de desmonte de carros na periferia de Blumenau. Após a instalação no Hotel Fink, cada um à sua maneira aguardou a hora do jantar e a distribuição das belas camisetas alusivas ao Caminho do Vale Europeu, Edição 2019.

Após o café da manhã e a primeira foto geral da turma, ida de ônibus até a periferia da cidade onde, feito o cerimonial de praxe, teve início o primeiro dia de caminhada, em direção a Timbó. Começo em terreno plano por estradas, contemplando fazendas com construções típicas no estilo Enxaimel ou Fachwerk, jardins floridos e muito bem cuidados. Seguiram-se 3 a 4 Km íngremes ascendentes, em curvas acentuadas para ocultar do peregrino o que vinha pela frente, compensado no topo por um delicioso pastel de carne de frango caipira com palmito juçara natural. Após breve pausa, ladeado por plantações de palmeiras juçara, real e pupunha, uma boa descida até o Distrito Rodeio 12 onde, após 15 Km andados, se fez uma parada maior para petiscar deliciosos bolinhos de carne regados a cerveja bem geladinha para rebater o forte calor de 35º C. Para finalizar a exigente jornada de 24 Km, parte plana ao longo de rodovia até Timbó, com direito a observar famílias de capivaras nos banhados adjacentes. Da periferia da cidade até o Timbó Park Hotel, notou-se o extravio de vários peregrinos a buscar salsichões, chopp e outras delícias no restaurante Thapioka.

O segundo dia estava carrancudo e com temperatura agradável de 14º C. Os primeiros 8 Km até a graciosa Capela de São Roque foram por ruas e estradas pavimentadas, com lindas paisagens, arquitetura típica e urbanização bem cuidada. Longa e íngreme subida até uma Igreja Luterana de 1953 aos 14 ou 15 Km andados, com tempo sempre nublado, cerração constante e garoa frequente. Contemplando paisagens rurais belíssimas, lagoas floridas, casas jardinadas, arquitetura estilo enxaimel, gado bovino e cavalos, petiços e normais, chegou-se ao imponente Portal de Pomerode. Novo extravio de peregrinos na busca de comidas típicas, café colonial, marreco e joelho de porco. Vencidos 29,5 Km até a Pousada Casarão Schmidt, percurso mais longo, com pesado trecho em subida, mas tudo amenizado pelo clima agradável.

A saída de Pomerode no terceiro dia ocorreu com temperatura de 16º C, por ruas e rodovias pavimentadas que exigiram maior cuidado com o trânsito de veículos, apreciando belas e jardinadas casas típicas e um riacho em corredeiras e cachoeiras aproveitadas com respeito à natureza. Trecho plano até a parada, após 5 ou 6 Km andados, na fábrica de velas e indústria de embutidos de carne suína, em frente à Casa do Imigrante Carl Weege, bem conservada construção em estilo enxaimel. Nova parada para reagrupamento na roda d’água, em longo segmento ascendente aos 8 ou 9 Km caminhados, sempre admirando o belo visual de construções típicas, palmeiras e flores. Conclusão da etapa ascendente, bom trecho em declive, com o último 1,5 Km em estrada de terra até a Capela de Santo Antônio, aos 13 ou 14 Km vencidos. Terreno plano compostelano até o Restaurante Rio dos Cedros, na entrada da cidade, aos 16 Km, com parada para quem quisesse almoçar. Novo trecho em acostamento de rodovia e calçadas de ruas até o alto do antigo Seminário Católico de Rio dos Cedros, atual Casa de Formação Nossa Senhora Auxiliadora, depois de 18,5 Km caminhados, local que exalava paz espiritual e onde já estava à espera o Diácono Mário. Alojamento tipo albergue, mas com muitos quartos de duas ou três camas individuais a escolher.

Depois de uma noite com muita chuva, o quarto dia amanheceu com céu nublado e sisudo e temperatura de 14º C. Os primeiros 2 a 3 Km foram em terrenos planos, saindo da cidade. Os 5 ou 6 Km seguintes foram pesados, subidas íngremes e contínuas, com vários cotovelos ascendentes, compensados por lindas paisagens, bela arquitetura com abundância de prédios em estilo enxaimel muito bem conservados e complementados por jardinagens caprichadas e criativas. Ao passar o segmento entre as Igrejas de São Bernardo e Auxiliadora de Rio do Cunha, ouviam-se marteladas estridentes de arapongas nas matas, que se destacavam ante os ruídos contínuos de corredeiras e cachoeiras do riacho ao longo do percurso. Trechos mais suaves, rampas mais leves ou mais curtas, descidas e planos até a rua principal de Benedito Novo, lindas jardinagens nas casas, com flores, bonecos e aves coloridas. Passagem pelo centro de Benedito Novo com 18 a 19 Km caminhados. Após os últimos 5 ou 6 Km de subidas íngremes ao barulho de mais corredeiras e cachoeiras e 2 a 3 Km de estradas planas ou descendentes, ladeadas por várias construções no estilo enxaimel, foram  vencidos os 26 Km até o alojamento na Missão Evangélica União Cristã (MEUC) no Bairro Alto de Benedito Novo, jornada pesada mas amainada pela temperatura de 14 a 24º C. Alojamento tipo albergue, com quartos de quatro ou mais beliches, sem muitas opções de escolha.

O quinto dia amanheceu com um frio de 5º C, mas no início da caminhada já estava 7º C. Uma subida de 3 a 4 Km logo após cruzar de retorno a pinguela ultrapassada no dia anterior ajudou a aquecer o corpo. Terreno plano com plantações de arroz até a parada no Distrito de Vila Maria após 8 Km andados. Seguiram-se mais plantações de arroz e uma paisagem belíssima com um riacho em corredeira ao lado da estrada e um túnel formado por árvores até o Km 16 onde se fez a parada para o lanche. Um íngreme e sinuoso trecho ascendente de 3 a 4 Km, talvez o mais exigente do caminho, foi encarado. A Gruta de Santo Antônio ficava a 500m do final dessa subida e exigia uma saída de 300m em trilha para visitá-la, mas valeu muito a pena. Os próximos 12 Km em terreno plano compostelano, mais 2 a 3 Km com uma descida bem acentuada, levaram ao asfalto e periferia de Doutor Pedrinho. Caminhados mais 4 Km cruzando as ruas centrais para chegar à imponente Bella Pousada, de onde se podia contemplar toda a cidade. Assim foram superados os 32 Km desde Benedito Novo, etapa muito exigente mas amenizada pela agradável temperatura, 19º C na chegada.

Sob uma chuvinha fina e temperatura de 6º C, amanheceu o sexto dia. Após fazer de ônibus um trecho até a periferia da cidade já andado no dia anterior, seguiu-se por 4 Km até o Distrito de Salto Donner em terreno plano e com chuva um pouco mais intensa. Em mais 4 a 5 Km de terreno plano compostelano, fez-se uma parada para lanche na Lucyhauss, uma venda em frente à Igreja Evangélica de Barra de São João onde havia de tudo um pouco. Num trecho mais ascendente de 2 a 3 Km, caminhou-se a cavaleiro de um riacho em corredeiras e cachoeiras ruidosas a contemplar a delicadeza em estilo enxaimel, de casas e da Igreja Luterana de Ribeirão da Liberdade, além de construções modernas, todas muito bem cuidadas e complementadas por jardinagem impecável. Arrozais nos vales inundados. Eucaliptos e pinus desdobrados em pequenas serrarias, para a construção civil, pallets e indústria moveleira. Trituradores de cavacos para aproveitamento do refugo da madeira. Extração rudimentar manual de toros de pinus a serem exportados para os EUA, com auxílio de tração animal em face da ribanceira irregular que impossibilitava o uso de máquinas. O rebanho bovino e ovino e a quantidade de aves em geral evidenciavam uma criação para consumo familiar e serviam de colírio aos olhos dos peregrinos ao longo do caminho. Conhecer algumas raças bovinas, perceber as diferenças entre eucalipto e pinus, discernir touro de boi, ouvir o balir das ovelhas e o fraquejar das angolas despertava curiosidade nos nascidos e criados em grandes centros urbanos. Uma pata com dez patinhos andando em coluna, apressados e rebolando rumo ao cocho de comida causou admiração aos que puderam contemplar a cena. Jornada tranquila de 22 Km até Ribeirão Liberdade, mesmo sob chuvisqueiro, com temperatura dos 6 aos 16º C.

Tendo havido retorno para dormir em Doutor Pedrinho, o penúltimo dia teve início com o deslocamento de ônibus para Ribeirão Liberdade, com temperatura de 15º C. Dos primeiros 9 Km, pelo menos a metade foi em duas fortes subidas, no início e no final, até a entrada para a descida de tirolesa, desafio que foi encarado por vários peregrinos. A seguir, uma longa descida de mais 5 Km alternada por trechos planos, até a centenária Capela Nossa Senhora de Lourdes, de 1906, onde teve início os 8 Km em que se acham postados 64 anjos esculpidos pelo Sr Paulo Notari, um agricultor nativo, que fazem com que aquela estrada seja também conhecida como Caminho dos Anjos. Logo após a Capela, um Cruzeiro de 9m de altura circundado pela concentração da maioria dos anjos, todos segurando um buquê de hortênsias nas mãos. Em seguida, ao som de bigornadas a denunciar a presença de arapongas nas matas adjacentes, com paisagens de plantações de eucaliptos, de pinus e de palmeiras pupunha, juçara e real, depois de 17 Km andados, a Vinícola San Michele oferecia degustação e venda dos seus vinhos. Com mais 3,5 Km de estrada e ruas, chegou-se à imponente Igreja e antigo Seminário de São Francisco, com vista dominante do centro da cidade de Rodeio, totalizando 20,5 Km desde Ribeirão Liberdade. Todos reunidos, seguiu-se de ônibus daí até o Hotel Lange em Apiúna.

Para o oitavo e último dia, já com certa tristeza pela proximidade do fim, partiu-se de ônibus de Apiúna até Ascurra para, após o cerimonial matinal, dar início à caminhada até o ponto final de reunião no Hotel Fink em Indaial, sob a temperatura de 15º C. Nas adjacências da estrada de chão passaram-se bananais, arrozais, hortas e pastagens com gado zebu, por bom tempo às margens do rio Itajaí-Açu cuja largura, sinuosidade e mansidão em nada faziam lembrar as ruidosas corredeiras e cachoeiras dos belos riachos vistos nos dias anteriores. Impressionava a beleza e graciosidade das sedes de fazendas ou casas de campo e suas jardinagens ao longo do caminho. O grasnar dos gansos agindo como cães de guarda, aliado ao pupilar dos pavões e ao grugulejar dos perus, ambos estes a exibirem suas plumagens, embelezavam ainda mais a paisagem campestre. Chamou à atenção a belíssima arquitetura de uma ponte dupla-simples de treliças em madeira tombada pelo IPHAN, Ponte de Madeira Coberta do Warnow, logo antes do Posto Knop onde ocorreu a parada para lanche aos 11 Km caminhados. A partir daí, já com sol e temperatura de 20 a 22º C, o percurso transcorreu por rodovias ou ruas pavimentadas em perímetro urbano, com uma grande concentração de casas em estilo enxaimel, algumas abandonadas ou até mesmo em ruínas, além de outros estilos típicos mais modernos, de uma beleza arquitetônica de encher os olhos. A chegada ao ponto de reunião final ocorreu com 19,6 Km vencidos. Com todos juntos, deu-se a ida para o restaurante, almoço, palavras da Diretoria e de peregrinos franqueados, distribuição de Certificados de Conclusão e retorno para Florianópolis.

Durante todo o caminho, os pratos típicos da culinária regional também foram apreciados. Às tardinhas e noitinhas, antes e depois do jantar, em particular quando essa refeição ocorria no próprio local de pouso, juntavam-se todos a conversar, jogar cartas e dominó até a hora de ir para a cama. Quando o jantar teve lugar em restaurantes outros e havia música ao vivo, a cantoria e as danças foram animadas. Beber, bebia-se de tudo, até mesmo água.

Para finalizar, é justo parabenizar aos integrantes da Diretoria pela organização e sucesso obtido nessa primeira empreitada, aos peregrinos pela disposição, entusiasmo, solidariedade e alegria que apresentaram em todos os momentos, e individualmente a cada um do grupo pelos muitos ensinamentos compartilhados e pela amizade firmada ou confirmada em mais esta bela e agradável edição do Caminho do Vale Europeu.