Caminhada Inaugural do Caminho dos Tapes (São José dos Ausentes/RS)

Mácia Reis Bittencourt

21 de fevereiro de 2020. Aproximadamente 60 peregrinos, em ônibus, com destino a São José dos Ausentes.  A 1400 metros de altitude, é a cidade mais alta e fria do Rio Grande do Sul. Com o maior conjunto de cânions da América do Sul.

Diz a história oficial que desde 1727 os jesuítas, com os índios Tapes (do grupo Guarani), levantaram uma cruz para registrar seu domínio na Vacaria dos Pinhais. No entanto, quando morreram os grandes posseiros dessas terras, os campos teriam sido arrematados em “Juízo de Ausentes”, no ano de 1764, pelo capitão Antônio da Costa Ribeiro. Em meio às idas e vindas das gentes que por ali transitavam ou nasciam e morriam, o gado de raça franqueiro foi se espraiando. É franqueiro porque é livre, xucro, selvagem, em seu DNA sem dono. Ou seja, é mais do que história, é metáfora dessa terra desde sempre impávida e ainda à espera de ser reconhecida, desbravada e adorada.

Depois da morte do capitão Ribeiro, e por não ter descendentes, novamente os campos foram para juízo. Em 1787, foram arrematados pelo padre Bernardo Lopes da Silva, o tenente José Pereira da Silva e Manoel José Leão, que repassam em 1789 seu quinhão ao povoador Antônio Manoel Velho, que a denominou Fazenda Santo Antônio dos Ausentes. De três sesmarias, logo a terra dos ausentes virou dez, que só foram subdivididas a partir de 1874, quando morreu Ignácio Manoel Velho, um dos herdeiros, que manteve a área intacta. Essa terra de Manoel Velho, somada a outras léguas, se tornaria o que mais tarde o município São José dos Ausentes, oficialmente nascido em 1992.

Subir para Ausentes é percorrer um caminho com pedras no meio da estrada. Pedras brilhantes ladrilham nossa caminhada. Delas levo apenas fotos. Parto do princípio que da natureza nada se tira apenas fotos. As pedras brilhantes foram jogadas ao longo do caminho pelo nosso criador para deixar nossa caminhada mais bonita.

Feridas curadas pelas águas de São Jose dos Ausentes nos olhos d’água do cânion Monte Negro. Fica a pergunta: Carlos Drummond de Andrade teria escrito Poema de Sete Faces sentado à borda do cânion Monte Negro, o ponto mais alto do Rio Grande do Sul? No cânion Monte Negro foram gravadas as novelas globais Além do Tempo, O Profeta e a minissérie A Casa das Sete Mulheres.

“Sou das montanhas e nas montanhas eu vou ficar…” Padre Zezinho. As montanhas sempre me fascinaram. Em Ausente senti a presença do escultor maior.

Pés machucados, olhar contente. Professor Juarez, Aécio, Laíse, Mayalú, Bebel, Ana, Rudi, os Amigos do Caminho quem vai na frente. Quem vai na frente respira a poeira da estrada, respira o ar puro da caminhada. Assim nasce o Caminho Missioneiro dos Tapes depois de uma chuva forte. Como diz um ditado popular tudo que vem depois da chuva vem com muita força e com muita vitalidade. Assim será o Caminho Missioneiro dos Tapes.

A inauguração do caminho missioneiro dos Tapes movimentou a cidade de Ausentes, que tem 3527 habitantes. Os dois maiores hotéis da cidade não tinham mais vagas para ninguém se hospedar. Os fazendeiros abriram as suas fazendas para nos recepcionar. A ministra da eucaristia saiu de sua casa para ir à igreja conosco rezar. O agricultor colheu maçã para nos alimentar. O apicultor trabalhou dobrado para com mel nossa vida adoçar. O motorista do ônibus escolar esqueceu que estava de férias e foi trabalhar. O gateiro da cidade fez uma parte do caminho para nos alegrar. Os restaurantes e bares da cidade tiveram movimento além do esperado e serviço dobrado. Até as aves curicacas, símbolo do território ausentino vieram nos espiar…

São José dos Ausentes com suas águas cristalinas (Rio das Antas) e sua natureza exuberante preciosidades do planeta terra. Água limpa, transparente, fonte de energia. Energizada com as águas do Rio das Antas, acredito que caminhar deixa a nossa mente mais curiosa, o nosso coração mais forte e o nosso espírito mais alegre.