Caminho da Ilha com Calma – 3ª etapa

14 de junho de 2014

“Vou me perder por aí…”

Garoa. Tempo nublado. Expectativa. Vamos assim mesmo? Vamos, pior não fica. Vamos? Vamos. E fomos. Saída: Campeche. Destino: Barra da Lagoa. Motivo: aventura de viver.

Começava assim a terceira etapa do Caminho da Ilha com Calma. Para um pequeno grupo: a maioria mulheres. Mais corajosas. Mais dispostas a superar e superar-se. Mais três nos esperavam no Campeche, na igrejinha de São Sebastião. Exercícios. Fotos. Oração.

Começamos a caminhada. Sem chuva. Com nevoeiro escondendo a Joaquina. Podemos andar pela praia, mas logo adiante, começa a trilha da coruja buraqueira. Quem quiser pode ir por ela. Ninguém quis. O reencontro. Papo com um. Com dois. Com três. Um avança mais rápido. Alguém vai com ele. Outra anda mais devagar. Tem companhia. Fotos do mar. Das dunas. De pessoas. Do grupo andando: de frente, de costas. Muito animados. Num bom ritmo.

O costão da Joaquina do nada é um borrão. Do borrão, um contorno. Do contorno, uma definição. Do nada, uma imagem em 3D: a Joaquina de sempre. A que conhecemos. Cinco quilômetros superados. Fácil, fácil. Era de se esperar. Primeira parada. Banheiro. Pastel. Água. Fruta. Barra de cereal. Descanso. Paciência impaciente.

Vamos seguir? Vamos. Pela estrada. De costas para a praia. Até o início da trilha. É aqui? É aqui! “Avante e para o alto”. Super-homens. Super-mulheres. Chegamos ao alto. E agora, cadê a trilha? Ó, tem uma aqui. Bem marcada. Pisada. Vamos. Não era. Dava uma volta que não devia dar. Coisa de boi no pasto. Vou ver lá na frente. Não é por aqui. Não há saída. Voltamos? Voltamos. Quem procura acha. O matagal engoliu a trilha. Aqui! Não. Ali! Não. Paciência impaciente. Deveria ser por aqui. Tá vendo a trilha lá? Tô, mas como chegar lá? Melhor ir pela estrada. É. Pode ser? Pode. Um poder democrático. Voltamos e seguimos pela estrada até a Mole.

Outra parada. Banheiro. Água. Lanche. Café. A gente tá demorando muito. Vamos? Ah! Tá tão bom aqui. Tem vento. Frio. Mas não chove. Vamos? Fomos.

Qué moleza? Na Mole não tem. O pé afunda na areia. A areia prende o pé. Mole: dureza. Galheta: moleza. Mole: beleza. Galheta, nudeza. A Mole acaba. Galheta. Sobe a trilha. Desce à praia. (Vã esperança: nem um pelado. Um, dois pescadores). Pela praia, até aquelas pedras. Agora subir a duna. Logo a vegetação rasteira, até o topo do morro. De lá vocês vão ver uma das paisagens mais belas da Ilha. De um lado a Galheta e a Mole. De outro a Lagoa e o canal da Barra e, adiante, o povoado e o Moçambique. Não deu. A neblina cobria tudo. Por todos os lados. Ver, só a poucos metros. Fotos: atores num cenário úmido e cego. Fotos diferentes. Estranhas. No topo de mundo, sem provas. Pode ser em qualquer lugar. Neblina!

Último trecho. Até a Barra da Lagoa. Na ponte pênsil. (Pênsil? Já foi). Trilha visível. Íngreme. Muito íngreme. Difícil descer, imagina subir. Mas é o que a gente faz: sobe e desce. Comenta, mas não reclama. É fácil? É difícil? Estamos em todas. Caminhar é isso: fazer o caminho enquanto se caminha.

Estamos chegando. Surpresa! A Clarisse – vocês não conhecem – despedia-se das amigas de Itajaí que foram colegas de segundo grau. As amigas levando um bolo de fubá com erva doce. Sobra do lanche. Lanche da visita. Visita à amiga de escola. A gente sempre se encontra. Clarisse e as amigas de antes. De antes de estudar com a Catarina. Na universidade. Catarina conhece Clarisse. Clarisse conhece a dona do bolo. E nós chegando. Cansados. Com fome. De bolo. De fubá. Com erva doce. Aquele bolo. Vamos, sirvam-se. Abelhas num pote de mel. Calma, tem prá todos! Farinha pouca, meu pirão primeiro! Vergonha? Não. Fome. E estava bom. Demais da conta. Deixa um pouco do bolo, prá fazer bonito. Certo! As amigas da amiga chamando. Vamos! A gente tem de voltar prá casa. E fomos juntos, até o outro lado da ponte (pênsil?). Ô moço, tira uma foto da gente. Claro! Vem aqui. Vem aqui. Junta mais. Junta mais. Assim. Saiu boa? A foto. Perfeita.

Eu pago a primeira. Quem quer? Me dá um copo. Ei, garçom, traz outra. Bem gelada. Esfriar o que já está frio. E o pessoal se acomodando nas cadeiras de plástico. Sem pressa. Uma pede outra. Esta pago eu. Eu preferia um café ou um chocolate quente. Ali tem. Vamos? Fui. Chocolate encorpado. Gostoso. Pelando de quente. Bom papo. Sobre o Caminho de Santiago. Tem um casal escutando. Sentam perto. Vocês já fizeram o Caminho? Sim, claro! Elas vão no ano que vem. Meu cunhado e minha irmã fizeram. Gostaram. Não ficaram em albergues. Sempre em hostais. Mais conforto. Falam maravilhas. Voltaram outros. Mais unidos, os dois. Quantos quilômetros são? Eu, heim! Isso não é prá mim. O marido quieto e mudo. Mas antenado. Sorria com os comentários da mulher. Ei, gente, estamos indo. Sim, nós também. De onde são? De São Paulo. Boa sorte. Parabéns a vocês. Admirável o que fazem. Tchau! Até mais.

Tchau! Até mais.

Inácio Stoffel


Fotos: Catarina Maria Rüdiger

Detalhes do Evento