Rota dos Tropeiros/SC

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27 de março à 04 de abril de 2015

ROTA DOS TROPEIROS – Caminhada pela História Catarinense

O tropeiro catarinense conduzia tropas de mulas e boiadas de uma região para outra, às vezes próximas entre si, às vezes distantes, cruzando estados. Montado a cavalo, vestia-se à moda gaúcha: poncho, bombacha, botas com esporas e, na cintura, guaiaca, garrucha e facão, para defesa na estrada. Sendo este um trabalho pesado, os tropeiros alimentavam-se com feijão, arroz, carne seca, toucinho salgado e farinha de mandioca. Tomavam café de chaleira e chimarrão, seja para acompanhar a comida, seja para aquecerem-se.

Por mais de dois séculos esses viajantes transportaram alimentos, notícias e alegria entre as cidades fundadas pelos bandeirantes na região e criaram outras. A essa altura, os seus hábitos e a sua comida saborosa, apesar de rústica, já estavam enraizados ao longo dos caminhos. O declínio da profissão deu-se quando caminhões passaram a fazer o transporte de gado, em meados do século XX. Muitos, voltaram-se a outras atividades, mas outros desestruturaram-se por completo, entregando-se à melancolia e tornando-se, de provedores, dependentes.

A Rota dos Tropeiros foi proposta pelo associado Guido Becker, como mais uma opção de caminhadas de longo percurso, como o Caminho da Ilha e o Caminho do Vale Europeu. Mas, também, como uma forma de resgatar a história da própria família: a serviço de um tio, seu pai, na juventude, transportava madeira e charque de Lages a Florianópolis, num carroção puxado por quatro cavalos. Na volta, levava sal grosso e encomendas de comerciantes e famílias serranas.

Iniciado em 27 de março, o ponto de partida da caminhada de 220 quilômetros foi o município de Lages. Ao longo de oito dias, os 41 caminhantes passaram por Bocaina do Sul, Bom Retiro, Alfredo Wagner, Rancho Queimado, Águas Mornas, Santo Amaro da Imperatriz, Palhoça, São José e Florianópolis, mesclando estradas rurais, asfalto e ruas das muitas localidades do interior dos municípios citados.

Por ser a primeira caminhada nesta rota, houve alguns contratempos, logo superados pela boa vontade dos caminhantes. Mas também houve boas surpresas. Em Rio Rufino, o dono de um boteco onde lanchamos, brindou-nos com o som animado de sua sanfona. Houve também mesas de café da manhã de encher os olhos e o estômago, nos hotéis e pousadas. Foi notória a curiosidade geral dos moradores dos locais por onde o grupo passava: “é romaria?”, “estão pagando promessa?”, “de Lages a Florianópolis? Vocês estão é loucos!”. De qualquer forma ficavam admirados da coragem e determinação dos caminhantes. Não há como esquecer as recepções do sobrinho do Guido, em Rancho Queimado e do irmão dele, em Águas Mornas, em suas respectivas fazendas. Um serviu churrasco, o outro, café colonial e sopa.

Além disso, cada dia foi uma nova aventura, em novas paisagens. Ora no topo de uma montanha, com ampla visão do horizonte, ora nos vales, por onde se aligeiram rios e riachos de águas frescas e límpidas. Um convite à contemplação e à reflexão. Ou a uma animada conversa com o companheiro ou companheira ao lado.

Nas cidades, monumentos aos pioneiros, aos que trabalham a terra e aos tropeiros, que movimentavam a economia, ampliando o mercado de trocas. Em todos os lugares, muitas fotos garantiram a lembrança dos momentos e paisagens mais agradáveis.

Enfim, de cidade em cidade, descendo a bela Serra Catarinense, o grupo chegou a seu destino, a capital do estado, oito dias após o início da caminhada. Na bagagem, a roupa suja; na alma, a alegria de ter participado de mais esta aventura pioneira.

Inácio Stoffel


Fotos: Guido Becker


Fotos: Catarina Maria Rüdiger

Detalhes do Evento