Só. (Lagoa do Peri)

16 de fevereiro de 2013

Texto de Jairo Ferreira Machado, inspirado em caminhada na Lagoa do Peri

Só para registrar aquilo que os olhos da gente não se cansam de ver, a Lagoa do Peri, com seus encantos, as trilhas, as raízes tortuosas atravancando as veredas, os troncos dos arbustos, os cantos dos pássaros, o vôo das garças, as trilhas assoalhadas de folhas para se pisar macio ali, os cipós laçando nossas cabeças, o cio das águas chamando para um banho ou para um escalda-pés, momentâneo, o sol infiltrando-se através das árvores uma réstia de claridade, a intensidade, o cheiro do mato, um regato aqui outro acolá, um escorregão, faz parte, o cajado fincado ao chão, uma flor silvestre, um dar e receber, um pólen, um néctar, abelhas, vespas, borboletas, o (a) peregrino (a) com sua câmera, registrando os fatos, os pormenores, as marés mansas da lagoa, as cafuas, os cafundós, os olhos marejados na poesia, esquecidos dos estresses da cidade, é quando o frango-d’água voa às margens do lago, reluzindo à luz do sol suas cores iridescentes, o mar de água doce refletindo as silhuetas das árvores, as quaresmeiras floridas, a imponência dos guarapuvus, o amarelo-ouro, as rochas, os pedregulhos, um mundo à parte nadando no nosso olhar, aguçando os nossos sentidos, os ouvidos descansados da folia do carnaval, a sede saciada da água trazida na mochila, um silêncio, às vezes uma conversa à toa, uma boa conversa, a toada, um escorregão aqui outro acolá, longe o céu anil, nuvens esparsas vão passando, num vagar de sonhos, o ócio que não é ócio, é mais que isso, é o ofício de caminhar, sair da mesmice das cidades, lavar a alma, deixar-se levar… por um mundão de coisas que a natureza perfila diante de nós, alegorias, fantasias, a gente ali, passos lentos, desfilando em suas passarelas, grilos, esperanças, louva-deuses, os deuses também caminhavam, soberanos, deuses, Deus, a gente podia senti-Los, falar com Eles, agradecê-Los… em poder estar ali, andando com nossos próprios pés, nas angras, as pitangas, os araçás, os suirirís, os bem-te-vis, com seu “bentivitismo”, como disse um dia um poeta, a seleta classe de ver e enxergar os mananciais de coisas que a vida oferece, as mil facetas da vida, um viver para não se esquecer.

Nota: Na foto abaixo, flagrante que fiz do autor do texto, despojado de suas botas que respiravam ao seu lado sobre a pedra. Ele, com os pés imersos na água e o olhar longe na paisagem. Inspirando-se. Inspirado. Iluminado.[Maurício]


Fotos de Maurício Berka:


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