Uma Surpresa na Caminhada



Texto de João Élcio Trierveller, inspirado em caminhada na Costa da Lagoa

09/03/2013

Em mais uma das trilhas de final de semana, resolvemos encarar a que teoricamente, deveria ser a mais tranquila: A trilha da Costa da Lagoa, na ilha, em Florianópolis. Quando chegamos ao ponto de encontro, Centrinho da Lagoa, já havia o prenúncio de algo no ar, devido a pouca adesão de caminhantes para tão bela e fácil jornada. É que amanheceu um dia carrancudo com leves chuvas. A partir da reunião do grupo, das instruções e pedidos de proteção, o firmamento começou a nos anunciar que muita água deveria vir durante este dia (09/03/13). Como está no sangue do peregrino sempre ir em frente, sob o comando e orientação de nosso “Capitão do Mato” Fernando, iniciamos nossa aventura. No primeiro quilômetro, paramos para algumas fotos, reorganizar o grupo e aguardar alguns que vinham um pouco mais atrás. Tratava-se de caminhantes paulistas que pela vez primeira estavam se juntando aos amigos da ACACSC. Também como estreantes estavam: Maria Salete, esposa do João Élcio e Carreirão, funcionário do Sebrae-SC, que está iniciando sua preparação para fazer seu primeiro caminho de Santiago de Compostela. Durante todo o trajeto, encontramos muitas goiabas maduras que serviram de aperitivo a todos. Sugiro que durante os eventos do Caminho da Ilha, promovido pela associação, sejam plantados mudas ou jogado sementes de frutas nativas, tipo: araçá, vergamota, pitanga, goiaba, etc. Estas frutas ficarão a disposição para o deleite de pássaros e todos que por estas trilhas se aventurarem. Estamos já há dez anos promovendo estes encontros; já imaginaram se tivéssemos começado lá atrás? Vamos deixar nossa marca aos peregrinos futuros. Voltemos à nossa aventura. Um pouco antes de iniciarmos verdadeiramente a trilha, no canto dos araçás, uma chuva torrencial nos obrigou a procurar um refúgio para nos proteger. Neste momento, alguns peregrinos, conhecedores do tempo na ilha, resolveram abortar sua caminhada e retornar, porém dezessete “bravos, destemidos, teimosos, corajosos”, sei lá qual o adjetivo correto, resolveram seguir em frente. A partir deste ponto passamos a exercitar o companheirismo, camaradagem, solidariedade e espírito de equipe que fluiu de forma automática devido a necessidade apresentada pelo temporal que se seguiu. O céu queria cair sobre nossas cabeças com fortes trovões e chuvas torrenciais. Todo e qualquer material recomendável para uma boa caminhada, com exceção da bota e cajado, ficaram sem efeito. Estávamos em um ponto que tudo nos impulsionava para a frente: o medo dos fortes raios que caiam perto do grupo, a quantidade de água que descia das montanhas e a vontade de chegarmos ao nosso destino. Chegamos em um bar para aquecermos a alma e o corpo. Conversando com alguns nativos eles sugeriram que deveríamos desistir neste ponto e retornarmos de barco; mais uma vez a vontade de irmos até o final, falou mais alto. Seguimos em frente e as fortes chuvas não nos deram trégua. A força do grupo nos impulsionou na transposição de várias cachoeiras que se formaram no restante do trajeto. Muita água na trilha onde em determinados pontos ia até a altura dos joelhos. Com tudo isso, certamente contamos com a ajuda de todos e a proteção de Santiago, pois nenhum acidente ocorreu. Realmente foi uma loucura e deliciosa aventura. São nos momentos de dificuldade que podemos sentir a solidariedade humana onde as pessoas se despem das máscaras e cascas externas impostas por esta sociedade atual, cheia de vícios e preconceitos onde o ter prevalece sempre sobre o ser. O companheirismo e espírito solidário é a grande marca do povo peregrino. Finalmente chegamos à vila da Costa da Lagoa. Alguns nativos nos observavam de seus lares não acreditando que com estas chuvas torrenciais pudéssemos a pé ter transposto esta trilha. Chamaram-nos de loucos aventureiros. Nosso guia Fernando sempre solidário nos guiou com segurança sempre respeitando a vontade da maioria. Foi nosso porto seguro. É nesta hora que podemos afirmar: “Como é bom que os irmãos vivam em união”, pois sem ela certamente as dificuldades seriam muito maiores. Nesta caminhada, que deveria ser muito tranquila e fácil, que se transformou em muito complicada, serviu para aumentar os laços de amizade e solidariedade entre os novos e antigos caminhantes reforçando desta maneira o sentimento de amor desinteressado entre as pessoas. Ao chegarmos ao restaurante, as mesas precisaram ser remanejadas, pois as águas começaram a tomar conta do lugar. Após excelente almoço, embarcamos em nosso transporte náutico para retornarmos cansados, molhados, porém felizes para nossas casas.


Fotos de João Élcio Trierveller:


Fotos de Maurício Berka:


Detalhes do Evento