CAMINHAR EM VOLTA DA ILHA
Caminhar e correr ou caminhar ou correr? Depois de 10 anos só correndo, me aventurei na caminhada e logo percebi a grande diferença entre essas duas modalidades esportivas. A corrida me satisfaz na adrenalina, me deixa pronta para o descanso físico, me faz ordenar as ideias me traz muitos amigos. E a caminhada? Estico as asas, uso musculatura do corpo inteiro, mas, o que mais faço é olhar, olhar o caminho, as paisagens e olhar para dentro de mim e do outro, nas conversas, nos papos. É sentir todos os aromas e cheiros, mas o que mais me impressiona é a amizade que se estabelece durante o caminho. Correr é uma atividade individual, competitiva, podendo até ser, competição com a gente mesmo o que não acontece na caminhada. O caminho me acalma, me deixa ser e viver como um girassol “de costas pro escuro e de frente pra luz”. (letra da música Girassol de Priscilla Alcantara)
CAMINHO DA ILHA – XIX EDIÇÃO
30/10/2021 a 06/11/2021
TURMA AZUL – (ARARAS AZUIS) SUL
PRIMEIRO DIA
Vamos fazer em 8 dias, o que faríamos apenas, num dia correndo, em equipe e com revezamento. Dias que antecederam a caminhada, pensei, será que não vou me cansar de caminhar, sem me cansar? Eis que no primeiro dia (30/10/2021), por volta das 7:40h, debaixo da velha figueira, manhã chuvosa e o tempo fechado, prometendo muita água pela frente, partimos para o desafio de voltear a ilha. E o contraste do tempo, se fez presente com a alegria, disposição dos 25 peregrinos, mais os nossos guias. A maioria desconhecidas, de várias procedências, tudo novo, só a certeza de que estávamos ali com o mesmo objetivo, no entanto, cada peregrino com o seu olhar e fazendo seu próprio caminho. Atravessamos a passarela no Centro Sul de Eventos e partimos para os 25 km até a Pousada do Museu no Ribeirão da Ilha.
Foi espetacular esse dia, para nossa surpresa e alegria, nosso amigo, Guido Becker, nos esperou com um farto lanche na Via Expressa Sul, foi providencial a parada, nos dando energia para continuar o caminho e oportunidade de trocar as primeiras informações e impressões pessoais entre os peregrinos. Passamos por dentro da base aérea, que sempre vale a pena, passar por aquele cantinho da ilha, de beleza sem par. No entanto, antes de entrar, houve um contratempo, tivemos que esperar a liberação da nossa passagem, mas esperamos e aproveitamos o tempo para conhecer e estabelecer vínculos de amizades, no entanto, a chuva persistia em nos acompanhar. Seguimos, cada um no seu ritmo, paramos no Restaurante Moqueca da Ilha, no centro do Ribeirão da Ilha, vila essa, datada sua criação, em meados de julho de 1809, por Alvará Régio. E aqui encontramos um dos mais belos conjuntos arquitetônicos, que demonstra a atividade rural do imigrante açoriano, que veio para a Ilha de Santa Catarina entre 1748 e 1756. E o ponto mais alto da ilha, com 532m de altitude, está localizado neste bairro, no entanto, não constava no nosso roteiro o Morro do Ribeirão, também conhecido, principalmente entre os corredores, como o Morro do Sertão, ou Morro Maldito. E no Ribeirão, se degusta uma deliciosa ostra, se destacando como o maior produtor desse molusco no Brasil.
E finalmente no meio da tarde, chegamos à pousada. O caminho me levou o observar que sozinha, não conseguiria chegar, sou um pedacinho do todo, busquei o silêncio a paz, para obter respostas através do caminhar solidário. Como é bom estar com outras pessoas, amigos de longa data e outros que ficarão para sempre em nossas vidas. Assim terminamos o dia com um delicioso jantar e uma belíssima exposição do nosso grande Conhecedor, Historiador e Professor Nereu do Vale Pereira, cumprindo assim, com simplicidade e carinho, percorrendo, 27 Kms.
SEGUNDO DIA – 31/10/2021
O segundo dia, a previsão era fazer 25 km, no entanto, vamos ver quantos kms faremos, pois o início da trilha de naufragados até a praia dos Açores, é muita trilha. Mas o objetivo era sair e caminhar, sem se preocupar com a distância e sim contemplar o caminho e as belezas que estavam por vir. Levantamo-nos com alguma ansiedade, pois não tínhamos certeza de nada. Mas, qual foi a minha surpresa, depois do café, nossa guia Cirlene, fazendo alongamento com alguns peregrinos, mas fiquei surpresa, pela sua habilidade e pela receptividade de todos, com o passar dos dias. Agradecida pelo bem, que proporcionou essa atividade matinal, antes da caminhada.
Vamos aos fatos decorridos do dia e análise do caminho. Saímos da Pousada do Museu, pegamos o ônibus e fomos até a Caiera do Sul e subimos a trilha até naufragados, trilha com muita água e pedra, mas com o apoio dos nossos anjos, fizemos com muita segurança. Nesse momento, senti a leveza e o espírito de solidariedade de cada um, por todos os peregrinos. Essa trilha eu já havia feito, no entanto a trilha dos naufragados até o Saquinho, não conhecia. Não acreditava na beleza, que se descortinava, cada passo dado. Além da beleza natural, os cantos, o barulho dos animais nativos e o meu grito libertador, no meio de toda aquela bela e santa natureza, para os males espantar.
Foi um dia bastante reflexivo e ao mesmo tempo de grande concentração, pois essa trilha foi difícil, além de estar muito molhada, devido às chuvas ocorridas nos dias anteriores, muitas pedras e muito íngreme. E o nosso amigo querido Gilberto, me segurava e dizia “Está ótima essa trilha, está muito bom”. Muito, muito obrigada pelo carinho. Você, foi o nosso ídolo. Saudades!
A Pousada que ficamos nesse dia, foi na Floripa Lodge Pousada e Bistrô, localizado na praia dos Açores. Não ficamos para dormir nessa pousada, pois os casais dormiriam separados, daí jantamos com os amigos peregrinos e fomos dormir em casa, no outro dia estávamos lá para tomar o café e seguir o caminho na companhia de todos.
TERCEIRO DIA – 01/11/2021
O terceiro dia, da praia dos Açores até Armação, muita ansiedade e ao mesmo tempo, tranquilidade, à espera de uma linda paisagem e excelente caminhada. Porque, depois de um dia em que enfrentamos muitas trilhas difíceis, mas belíssimas, nada nos assustava. Sabíamos que as belezas, se descortinavam a cada olhar no decorrer do caminho. Então partimos para a nossa peregrinação: Pântano do Sul, Lagoinha do Leste, Matadeiro. Caminho, já feito, trilha já trilhada, com meus amigos de corrida, correndo, de fato, uns anos atrás. Naquela ocasião não consegui visualizar e sentir as dificuldades das subidas e descidas pelas pedras, desenhadas pelas intempéries climáticas. Um relevo perfeito, para abraçar o mar, com enormes ondas e entoando notas musicais, faltando apenas vozes, para entoar e cantar, as ondas sonoras. A solidariedade e a leveza das araras azuis, sobressaltavam nas mãos amigas, nos cajados alcançados, para melhorar a performance de cada peregrino. Nesse momento o nosso anjo Rafael, estendia as mãos e sua calma, firmeza, nos dava força e equilíbrio. Muito obrigada, velhos e novos amigos. Consegui atravessar, graças a vocês amigos e graças ao som das ondas, que as transformei em notas musicais, Vivaldi, Beethoven , para poder disfarçar meus medos de altura e água. O mar, com o passar dos anos, me causa grande fobia, daí o poder da mente, transformando em notas musicais, o barulho das águas. Nesse dia, passamos no Pântano do Sul, onde segundo Eliane Veiga, “encontram-se alguns dos registros arqueológicos mais antigos da Ilha. Essa região foi ocupada por volta do século XVII, por pescadores em esparsos e pequenos povoados”.
Chegando no Matadeiro, brindamos o carinho, solidariedade e atenção de todos para com todos. E o brinde maior, foi o viver a vida. Seguimos a trilha do Matadeiro, até a Pousada Santa Ana, na Armação. “Atualmente a Armação do Pântano do Sul é um dos principais núcleos de pesca artesanal da Ilha, interagindo com os turistas e os praticantes do surf” (Eliane Veiga)
E para terminar o dia, com chave de ouro, jantamos no Restaurante Sabor e Mar, uma deliciosa anchova grelhada.
QUARTO DIA – 02/11/2021
O quarto dia, da Armação até Campeche, caminho tranquilo, sem trilhas, sem subidas e descidas, será? Sim, foi uma delícia, um caminho maravilhoso. Fomos pela praia da Armação, depois pegamos um caminho que margeou todo o parque da Lagoa do Peri, que segundo Eliana Veiga, “sua ocupação deu-se a partir da Freguesia de Nossa Senhora da Lapa do Ribeirão, núcleo de colonização açoriana, instalada no sec. XVIII” Nos anos 80, do século passado, muitos piqueniques fizemos neste parque, com toda a família. Era uma área de paisagem natural, próprio para crianças brincarem e os adultos descansarem e apreciar seus 20 km quadrados de reserva biológica, importante manancial hídrico, flora e fauna. E ainda no parque, conhecemos o Projeto Lontra, criado em 2004, em Santa Catarina. E o Instituto Ekko Brasil (IEB) é uma organização não governamental que coordena e apoia projetos que tenham como foco a conservação da biodiversidade e o turismo de conservação.
Atualmente o principal e mais antigo projeto de pesquisa e conservação desenvolvido pelo Instituto é o Projeto Lontra, que estuda a ecologia das lontras no Brasil, buscando soluções para a conservação das espécies. A base principal do projeto fica aqui na Ilha. (Informações obtidas durante a visitação e no site (2).
Prosseguimos o nosso caminho, o cansaço tomando conta dos peregrinos, a água terminando e o sol mostrando sua cara inclemente.
Mas quando de longe avistamos um carro branco, estacionado, com o porta-malas aberto, nossos corações se reanimaram, pois, nada mais era, que um delicioso brunch oferecido pelo nosso amigo Guido da Estoril Caminhos e de Jose Ferreira, presidente da ACACSC. Vocês não têm ideia, do bem que nos causaram. Pois bem, depois de alimentados e degustadas as cachaças, seguimos o caminho até o Hotel, São Sebastião, no Campeche. Esse bairro, distrito, sou apaixonada, mas vamos ressaltar apenas a sua ocupação e explicar o porquê da minha paixão, por esse lugar. “A igrejinha de São Sebastião, deve ter aglutinado as primeiras ocupações, criando um arraial de pescadores, segundo registros da história oral, em 1826, por uma família de posses da comunidade do Rio Tavares”. (3) .
E a razão da paixão, por ser o “local, onde Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944), passou como piloto, de acordo com a pesquisadora, doutora em literatura francesa, Mônica C. Corrêa, onde a “Empresa Latécoère, enviou, para a América do Sul, os pilotos, para os primeiros voos de reconhecimento, tendo registros de passagens por Florianópolis. E em 1929, Saint-Exupéry é enviado para Argentina, como chefe e nessa época e nessa função, passou várias vezes em Florianópolis”. Pouco valorizada essa história, pelos governos, Municipal e Estadual de Santa Catarina, que só traz dividendos positivos para a Ilha, para o nosso Estado e para o Brasil. “E em 1931, publica o livro “Voo Noturno, onde o autor cita a “escala de Florianópolis”, portanto não há dúvidas, quanto a passagem de Saint Exupéry, em Florianópolis. (4)
Caminhamos nesse dia, um trecho pequeno, mas permeado de histórias. Enfrentamos muito sol e asfalto, o que dificultou a caminhada e suscitou muito cansaço.
Tivemos tempo para descansar, tomar um café nas redondezas do hotel e qual foi a nossa surpresa da noite, uma belíssima apresentação de boi de mamão, dança folclórica mais cultivada da grande Florianópolis. Hoje uma das tradições folclóricas mais antigas de Santa Catarina. Além disso contamos com a presença de vários Presidentes da ACACSC, de mandatos anteriores. Parabéns, foi um momento de mostrar e cultivar as nossas tradições, devido à presença de peregrinos de outros estados e até de outros países. E o dia termina, com o encontro dos peregrinos que iniciaram a caminhada pelo norte da ilha. Foi sensacional, pela troca de informações. E no final, como sempre, um jantar delicioso
QUINTO DIA – 03/11/2021
O quinto dia foi a percorrer do Campeche, Joaquina, Mole, Galheta, Pedra da Bela Vista, até a Barra da Lagoa, no Hotel Residencial Ilha Bela.
Iniciamos o dia, na expectativa do que iríamos passar e o sol já estava despontando para a nossa alegria e preocupação, porque andar com sol forte, torna o caminho maravilhoso, mas o cansaço é intenso e a beleza do caminho, supera o calor.
Caminhamos por um trecho de estrada no Campeche, para depois caminhar na praia até Joaquina, linda, com toda a sua paisagem exuberante, com as dunas de areias finas e brancas e um belo costão de pedras, conhecida internacionalmente, pela prática do Surf. Em seguida, entramos numa trilha maravilhosa, passando pela praia do Gravatá e saindo na subida do morro da Praia Mole.
Subimos e descemos até a praia, pelo caminho asfaltado. Chegando na Mole, paramos num bar, todos estavam sedentos por água, suco, qualquer coisa que matasse a nossa sede, mas fomos surpreendidos, com o preço abusivo da água, 9,00 a garrafa de 500ml, exploração explícita do turista. No entanto, não deixamos de comemorar a vida, o caminho, o sol, dançando e deixando a alegria tomar conta, pois teríamos que enfrentar trilhas com vistas deslumbrantes, mas difíceis caminhos, estariam por vir. Seguimos atravessando a Galheta, conhecida praia de nudismo, e em seguida começamos a subida da trilha. Algumas subidas com sombras, não obstante, a maior parte da trilha, o sol se fez presente
Novamente, mãos amigas estavam lá, pois todos foram com o objetivo de contemplar a natureza, caminhar o caminho, sem esquecer do peregrino que apresentasse qualquer dificuldade em fazê-lo. E foi nesse espírito de solidariedade que chegamos ao nosso destino do dia, Hotel Residencial Ilha Bela, na Barra da Lagoa. Aqui na Barra, um dos principais atrativos culturais, é um sítio arqueológico de grande importância, comprovando a ocupação de ancestrais indígenas, há milhares de anos, e as oficinas líticas, que se destacam nas pedras do canal da Barra, indicam a presença humana bem remota. Foi a partir da Lagoa da Conceição, que a Barra da Lagoa foi ocupada por imigrantes açorianos, há 250 anos atrás. E a concentração de pescadores artesanais se deu em torno do canal que liga a Lagoa com o oceano, que é ainda hoje, bastante forte, a pesca artesanal. A primeira ponte pênsil, foi construída no ano de 1847, devido essa aglomeração. (5)
E assim esperamos todos, para o registro da chegada do grupo. Foi um dia intenso, longo trecho de praias, trilhas íngremes em que o sol, calor, não deram trégua, durante todo o dia.
SEXTO DIA – 04/11/2021
No sexto dia, seguimos da Barra da Lagoa, Bosque do Parque do Rio Vermelho, praia do Moçambique, Costão do Santinho até a praia dos ingleses, no Hotel Pousada Tatuíra, percorrendo, 29Km.
“A região dos Ingleses desenvolveu-se integrada ao Distrito do Rio Vermelho. Sua localização servia de posto de reconhecimento às embarcações que chegavam à Barra Norte da Ilha.” (Eliane da Veiga, pg 97). “Acredita-se que essa praia é chamada Praia dos Ingleses por haver ali naufragado um navio inglês. E essas peças encontradas, (mais ou menos 1700), através de uma pesquisa, com mergulhadores de Florianópolis, traz muitas informações do cotidiano da época, século XVII. E essas Relíquias Navais do Brasil estão todas catalogadas e disponíveis no Centro de Visitação, administrado pelo Projeto de Arqueologia Subaquática (PAS), localizado nos Ingleses”. Informações obtidas através da pesquisa financiada inicialmente pela FAPESC. e matéria veiculada pela RICTV, 01/04/2019.
O dia foi cansativo pela heterogeneidade do caminho, pela distância e pelo calor, no entanto as belezas naturais a solidariedade e a leveza dos peregrinos, superaram toda e qualquer dificuldade. A passagem pelo parque é maravilhosa, e ficou ainda mais com a surpresa deliciosa do Guido da Estoril Caminhos. Além de todos os mimos alimentares e bebidas, estavam presentes o nosso Presidente, Jose Ferreira e Rudi Zen, foi inesquecível o momento da nossa chegada ao som da música Rancho do Amor a Ilha do Zininho, Cláudio Alvim Barbosa.
“Um pedacinho de terra,
Perdido no mar!…
“Num pedacinho de terra,
Beleza sem par…
Jamais a natureza
Reuniu tanta beleza
Jamais algum poeta
Teve tanto pra cantar”
Estávamos felizes, comemorando o aniversário, da Ana Lucia Brant Ferreira, E nesse dia, caminhamos por toda a extensão da praia do Moçambique, mais ou menos 10 kms, onde sua areia é por demais fofa, dificultando a caminhada, no entanto, onde era possível, caminhamos por uma trilha mais leve.
Realmente é muita beleza para cantar e encantar. Devidamente alimentados e a alma acalentada, seguimos o caminho, que parecia sem fim, muita praia e muito sol, mas a pujança da beleza desenhada por Deus, as araras azuis e a colheita das pitangas, compensavam todo o cansaço.
No início da trilha do Morro das Aranhas, metade do grupo seguiu esse caminho, enchendo os olhos, pois a vista é inenarrável, maravilhosa e os outros foram pelas dunas, saindo atrás do Resort Costão do Santinho, caminhando até a praia e esperando o grupo que veio pela trilha. Prosseguimos o caminho atravessando toda a praia do Santinho até os Ingleses, trecho igualmente, com muito calor. Foi compensado pela amizade e atenção do grupo e dos guias Cirlene e Ronaldo.
Quase chegando no hotel, passamos pela Igreja Nossa Senhora dos Navegantes, fazendo o Caminho de Compostela Brasileiro, inversamente.
Chegamos no hotel e fomos recebidos com mimos, expressões carinhosas com frases de muito amor, carinho e boas-vindas e assim foi o tempo que ficamos hospedados nesse hotel. Outro dia, o lanche pronto, com o bilhetinho de incentivo para o caminhar.
O jantar foi no restaurante do Zé, em frente ao hotel, cardápio bem servido e gostoso.
SÉTIMO DIA – 05/11/2021
O sétimo dia, saímos da Praia dos Ingleses, passando pela Trilha do Morro das Feiticeiras, Brava, Trilha do Morro do Rapa, Lagoinha do Norte, Ponta das Canas, Cachoeira do Bom Jesus, Canasvieiras, Jurerê, Forte de São José da Ponta Grossa, Praia do Forte e Daniela. Foi um dia desafiador, subimos, descemos, trechos com muitas pedras soltas, raízes soltas, podendo causar danos físicos, apresentando ainda sinais de muita umidade, devido às fortes chuvas ocorridas nos dias anteriores. E mais uma vez, a solidariedade das araras azuis foi o ponto alto, pois o dia anterior, devido ao sol constante, foi também muito cansativo. Mas a alegria grupal, superava toda e qualquer dificuldade.
Trilhamos caminhos de areia, lama, pedras, raízes e enchemos nossas mochilas, de carinho, compreensão, tolerância, aprendizado, que nos fez, ser diferentes e muito melhores.
Passamos bem perto da Paróquia da Nossa Senhora de Guadalupe, ponto que inicia o Caminho Brasileiro de Santiago de Compostela. Caminhamos até Canasvieiras e o reencontro de todo o grupo para o lanche, demorou mais que outros dias, pois não tinha um lugar já escolhido anteriormente. E o cansaço de todos e a falta de hidratação, exigia uma parada em algum lugar, urgentemente. Daí a parada para o devido descanso, matar a fome e sede, no bar Pescador Lobo, em Canasvieiras.
Foi neste local, que as nossas amigas de outras caminhadas se juntaram ao grupo, para seguir o caminho. Devidamente alimentados, seguimos, passando por Jurerê pela praia, subimos o Morro do Forte, admirando e valorizando as belezas das ruínas da Bateria de São Caetano, Fortaleza de São José da Ponta Grossa, fechada para o devido restauro. Atravessamos toda Praia do Forte e depois iniciamos a trilha, admirando a beleza que cortava todo o morro, visualizando as águas azuis, contrastando com o calor provocado pela abertura do sol nesse dia.
Em torno das 17h, embarcamos no ônibus, com a mochila cheia de gratidão, pelo dia maravilhoso e já ocupando um grande espaço, a saudade e boas recordações.
Voltamos para o mesmo hotel, Pousada dos Ingleses, aproveitando esse tempo, para refletir o quanto aprendemos e quantas experiências compartilhadas, com esse pessoal enriquecido física e emocionalmente. E nessa noite, o banho, foi muito gostoso e não de água fervente, como no primeiro dia. Mas o carinho e atenção das pessoas que nos receberam no hotel, Pousada Tatuíra, superou qualquer contratempo ocorrido.
Antes do jantar, os guias fizeram uma excelente reunião, de avaliação e escolha do Peregrino que se destacou durante o caminho, no critério de solidariedade, amizade e outros. Mas não tivemos dúvida alguma em votar no Rafael, PEREGRINO DE OURO. Ele foi saber só no sábado, embaixo da figueira, quando recebeu um diploma, aplaudido por todos os 50 peregrinos, as duas turmas, os camisas amarelas e nós, azuis. A reunião serviu para enaltecer os pontos positivos que foram muitos e aproveito esse espaço para agradecer especialmente aos nossos amados guias, Maria Cirlene e Ronaldo Reginaldo, que além de guias, faziam todos os dias, um excelente alongamento e um momento espiritual maravilhoso. Agradecimento especial a Diretoria da ACACSC, desde o reconhecimento do caminho, o jantar de boas-vindas, as surpresas durante o caminho, enfim, toda dedicação e carinho para com todos os peregrinos, indistintamente. E nessa reunião, também foi ressaltado a união, solidariedade, alegria, compreensão e leveza dos peregrinos. No jantar, o Rafael entregou a todos, um mimo, um pôster com fotos do nosso grupo.
-Para nós, você Rafael, foi bondoso, nosso ANJO!
E assim terminava o penúltimo dia da nossa aventura, fomos dormir, com a sensação de “queremos mais” e saudades.
OITAVO DIA – 06/11/2021
O oitavo e último dia, saímos dos Ingleses de ônibus e chegamos no interior do Bairro Sambaqui, onde iniciamos a Trilha da Barra do Sambaqui. Não a conhecia e a surpresa foi, além de ser bastante íngreme, a beleza se apresentando a cada minuto, com vistas maravilhosas da Ponta do Sambaqui, do Pontal da Daniela, das Ilhas Ratones e do Continente. Chegamos na praia do Sambaqui, paramos para um lanche e fotos. Descansados, alimentados e com a mochila transbordando sentimento de saudade, gratidão e muita beleza natural, seguimos até o Bairro Santo Antônio, contemplando mais esse pedacinho de terra, onde conhecemos aquela que é considerada a primeira rua calçada do Estado, construída em 1845, para receber o Imperador Dom Pedro II e a Imperatriz Tereza Cristina e sua comitiva. (6) Paramos, para visitar a Igreja Nossa Senhora das Necessidades, datada de 1750 início e 1756 término da construção. (Informações obtidas dentro da própria igreja)
Seguimos o caminho, caminhando até Cacupé, onde o ônibus nos esperava na Colônia do SESC. Partimos então, até a Sede da Polícia Federal, na Ponta do Coral, na Beira-Mar Norte, embarcados no ônibus, até a Casa do Governador. (7)
Seguimos pela Beira Mar Norte, admirando de um lado a Ponta do Coral, lugar singular de outro a suntuosa residência oficial do Governador do Estado, denominada Casa d’Agronômica. É uma construção em estilo colonial misto, que teve início no ano de 1952 e terminou em 1954, sendo inaugurada no início de 1955 pelo Governador Irineu Bornhausen.
Passamos pelo Forte Santana, construído a partir de 1761, segundo projeto do Engenheiro Militar José Custódio de Sá e Faria e cuja função era proteger a Vila de Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis, das embarcações que adentrassem pela Baía Norte.
Fizemos uma parada, para reunir o grupo e tirar a foto com a monumental Ponte Hercílio Luz, ao fundo. Prosseguimos, passando perto da Estação Rodoviária, embaixo das pontes Colombo Sales e Pedro Ivo Campos, cruzamos a avenida Gustavo Richard pela Passarela Aterro Baía Sul, passamos pelo TICEN e concluímos o Caminho da Ilha, chegando na frondosa e centenária figueira da Praça XV, em torno das 13h30, depois de caminhar os 19,5 Kms.
Com certeza essa experiência, nos proporcionou muitas conversas, permeadas com muitas gargalhadas, reflexões, muitas informações históricas, tolerância, companheirismo, troca de experiências, mútuo respeito, muitos e múltiplos olhares de maravilhosas paisagens, belíssimas trilhas com grandes e pequenas dificuldades, sentir o medo de enormes, mas lindos costões, superação pessoal, degustação da gastronomia local e muitas saudades, no coração de cada peregrino.
Com toda essa bagagem na mochila, chegamos na Praça XV, expressando toda nossa alegria, gratidão, muita gratidão a todos que proporcionaram esses momentos, impossível descrever, sem enfatizar o amor, solidariedade, admiração, conhecimento e gratidão, por tantas coisas boas que vivenciamos. experimentamos e vimos. Cabe ressaltar a beleza e a grande diversidade das flores, que em todos os cantos inimagináveis, lá estavam elas, lindas, maravilhosas. A nossa Ilha, é permeada de muitos segredos naturais.
Por fim, esperamos a turma dos amarelinhos chegar, para o iniciar o cerimonial de entrega do certificado de conclusão a cada peregrino, e a revelação do nome, do nosso peregrino protetor, solidário, das araras azuis, foi para Rafael Silveira, escolhido por unanimidade. Para finalizar essa linda aventura, a Diretoria da ACACSC, ofereceu um delicioso almoço, de despedida. Muito obrigada Gratidão de todos nós é imensa.
Maria Zilene Cardoso
1 Eliane Veiga, no artigo, Ocupação Humana e Paisagem, no Atlas do Município PMF e IPUF – 2004 pag 98, 99
3 Eliane Veras da Veiga, no livro Circuito Cultural de Florianópolis – 2000. Pag 23.
5 Atlas do Município de Florianópolis. PMF, IPUF coordenado por Maria das Dores de Almeida Bastos-2004. Texto de Eliane Veras da Veiga, pg 99
6 https://floripacentro.com.br/ Em Florianópolis – Primeira rua calçada de Santa Catarina completa 175 anos – Floripa Centro
7 Um alerta para os organizadores, a parada de ônibus, nesse local é muito perigosa, muitos transeuntes, caminhantes, corredores, ciclistas, sujeitos a acidentes.
* Agradecimento especial ao Professor Nereu do Vale Pereira, sua palestra e seu conhecimento foram de grande valia, para enriquecer esse relato, no que concerne as informações históricas.
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