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Colcha de Pensamentos

Atualizado: 13 de mai.

Autor: Lígia Maria Knabben Becker Um enorme edredom de pena de gansos aninhava um ser enroscado em seus próprios pensamentos naquele frio domingo do inverno mais longo e solitário da sua vida. Gostoso o aconchego que pedia passagem para o encontro do carinho, da atenção, do companheirismo na vida daquela criatura ansiosa por viver a dois, teimosa em buscar no olhar de um Outro a plenitude do ser, ou seria do estar humana? elucubrava. Um pensamento vinha lhe sussurrar a ideia que chegava do seu espírito: sua busca poderia ser focada em si mesma, na sua autoplenificação em vez de deixar nas mãos de outros o preenchimento da sua vida. O quê? Também pertenço ao orgulho, ao pessimismo, ao ciúme, medos, à magoa, culpa e ao ressentimento. Como um marisco grudado na pedra me agarro as minhas crenças e hábitos confortáveis e alienantes, inclusive me acostumo até ao sofrimento porque ao me vitimizar tenho um ganho, assim como a atitude de controlar tudo e a todos me traz poder nas entrelinhas. E a indiferença? Ela é um dos piores atos de violência. Em silêncio, age. Alimento meu ego que é a força estruturada para o meu viver na existência atual. Esse era mais um pensamento que se ajeitava, barulhento, a sua mente. E outro chegava de mansinho pra compensar aquela algaravia toda: pra que romper seu ego da sua essência? do seu self? O seu ego é incapaz na competência de gerir tudo sozinho. Não deixe seu ego adoecer no egoísmo, faça um vínculo com o self. E mais outro: adquirir consciência é um processo e viver também o é e o mergulho profundo no imenso mar do nosso interior pode ser uma das fontes de autonutrição. Pensamentos trazidos da milenar cultura oriental fizeram-se presentes e foram sendo costurados, invisivelmente, àquela imensa colcha de pensares que agora cobria a criatura em desassossego. Pensava na impermanência das coisas. A vida é um navegar sobre um mar de mudanças e a única constante é a inconstância das coisas. Compaixão. Meditação. Desapego (sem ser indiferente). Simples, não? Não mesmo, tomava voz outro pensamento. E as unhas roídas? E a compulsão por comida? Por bebida, por drogas permitidas e outras nem tanto, por comprar demais, viajar demais e uma lista enorme de excessos que chegam devagarinho na vida da gente sem permissão e sem motivos bem definidos apontando a manifestação de uma tremenda carência afetiva? Não precisa necessariamente ir buscar-se viajando pelo mundo em infindáveis peregrinações, a melhor viagem será sempre ao nosso interior. Não se esqueça de que há aqueles que viajam para fugirem de si mesmos e outros para buscarem-se, diziam os pensares seguintes. Como esquecer? Era a realidade que vivenciava no momento. Que reflexão! Ardia a vontade de permanecer no silêncio das ondas mentais e não dar importância aos ruídos dos pensamentos. Deu-lhes asas para voarem..... e permissão para pousarem onde quisessem... já estavam impressos pelos sentimentos na sua alma mesmo..... fragmentos de consciência.... E a criatura deixava agora, apenas o edredom de penas de ganso cobrir seu desassossego, sem a pesada colcha, feita, pedaço por pedaço, dos seus inquietos pensamentos. O jeito era trazer sua vida para suas próprias mãos.

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