Autor: Jairo Ferreira Machado
As ondas vinham bater na praia, nas areias, onde sucumbiam em derradeiro e exausto sussurro, quase de não se ouvi-las, era o início de um silêncio, preservado ali numa história de amor. Agora, um amor sem o clamor de antes, amor de só se imaginar...
Foi no ano que se passou ou muito pra trás, na adolescência, quase uma vida inteira, ele se lembrava. Com o direito de não saber os detalhes, afinal, já tinha os cabelos brancos, as pernas cansadas, a respiração sôfrega. Somente o meigo rostinho dela e o brilho daquele olhar, duas preciosidades, cintilantes, nadavam em seus olhos.
Preguiçosamente, as ondas vinham e voltavam. Ouvia aquele murmúrio sem fim em consonância aos gemidos dela, aos pedidos: que nunca ele esquecesse aquele momento. Nem necessitaria pedir.
Entardecia, o sol, solitário se despedia no horizonte; apagava-se, como uma bola de fogo, nas distantes águas do oceano. Naquele dia em que lhe deu o primeiro beijo, podia ainda sentir o calor daqueles lábios, nos seus, agora envelhecidos e perdidos o brilho de outrora.
Lágrimas brotavam de seus olhos e se misturavam às águas do mar. Pouco ouvia o murmúrio em volta, os ouvidos muito pouco escutavam; tudo parecia muito distante; lá no infinito...
Como a vida é passageira, pensava, tal as ondas que se vão e não voltam mais. No mar adentro. Nas profundidades. Pediu que colocassem ali - nas águas rasas da praia - uma cadeira. E sentou-se. Deixou que as ondas o levasse e o trouxesse de volta: um sopro de vida, diminuindo, a cada instante.
As ondas tocavam seus pés, suas mãos; elas diziam qualquer coisa, com as quais já não se atinava; nem seu corpo lembrava. Somente seu coração, quis galopar; mas já não tinha forças. Mais um pouco, queria ver as nuanças das águas, o sol se pondo, mas todas as coisas bonitas de antes estavam escondidas atrás de uma cortina, chamada catarata.
Trouxe a mão molhada até os lábios; pouco sentiu o sal, ou nada sentiu. O sal daqueles tempos salgando os doces lábios dela, onde ele se embevecia; as ondas vinham e voltavam, massageando seus pés, querendo que ele lembrasse.
Além, ou mesmo perto, os piados agudos das gaivotas, como sombras voando ao redor; muitas pareciam de passagem, outras, querendo permanecer à espera dos peixes que os pescadores traziam do mar.
Muito longe o cheiro da maresia; o que o tempo tinha feito, de tão ruim, com ele? Mesmo disso, não se lembrava. O mar, o sol, o entardecer. E aquele corpo macio de uma jovem, de olhos azuis; isto, ao menos, ele não podia esquecer. Estava sorrindo, quando deu o seu último suspiro, e ninguém viu.
À beira mar; as ondas vinham bater na praia, nas areias, nos seus pés.
Despedida
Atualizado: 19 de mai.
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