Autor: Jairo Ferreira Machado
Eles chegaram, parecia coisa combinada, e pousaram ali no galho da araucária com os primeiros raios de sol da manhã, no inicio de setembro, mas eu já sabia que viriam, pois todos os anos eles vêm, e cada um vai tomando seu galho de preferência, a araucária já viceja as folhas esperando-os e eu montei o tripé da câmera com todos aqueles anunciados gorjeios em meus ouvidos, como uma orquestra sinfônica, como se agradecessem por eu ter plantado a árvore ali, primeira à rolinha, depois o suiriri, o bem-te-vi pequeno, o bem-te-vi grande, ainda não chegou o bem-te-vi rajado, esse vem sem grandes-afãs, pois foi o último a partir levando suas progênies no fim do verão passado e deixaram saudades, a árvore de frutinhas vermelhas que ainda não lhe sei o nome e sobeja no quintal vizinho onde eles fazem seus ninhos, naquela semana tinha terminado sua safra, e ficou um vazio-silencioso até então, agora, o anu-branco grita, esse chegou há quinze dias e já se desentendeu com o sabiá, ambos querendo a mesma forquilha da árvore, o anu intimidou-a com seu topete eriçado e a desdenhada veio se aninhar nos madeiros da minha varanda, no mesmo leito do ano passado, a patativa pequenina que só ela, tomou o galho do saí-azul que ainda não deu o ar da graça, a gralha-azul já voa por perto mapeando os ninhos, um a um, mas eu aqui, enquanto presente, ela que não se meta de embusteira, apedrejo-a, só fazendo de conta, vai encher o papo noutro lugar, a floresta é grande, esses meus se abrigam sob minhas asas, digo-a, eles cantam para os meus ouvidos, reluzem as penas para os meus olhos, vivemos em harmonia, são ainda personagens serenos das minhas lentes, às vezes brigões, como os joões-de-barro que se aninham no poste vizinho, mas vêm arrancar barro do meu quintal, a rolinha já está em lua-de-mel, são muitas luas, descontam pra menos na hora de fazer o ninho, alguns gravetos e pronto, gostam mesmo é de carícias, volúpias, que até me invejo, os sanhaços - azuis e verdes - esses nunca vão embora, estão sempre por aqui degustando das minhas bananas, as aracuãs fazem algazarras pras bandas do riacho que murmura próximo daqui, então, é esse aí o inicio da minha primavera, entre gorjeios e flashes...
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