Autor: Jairo Ferreira Machado
Ainda não sei o que vai acontecer daqui há pouco... Há sempre algo por vir que ainda nesse momento não sabemos. Recém tomei o meu desjejum, bananas, mamão, aveia, café e uma fatia de pão integral, o estômago recém acordado e já alimentado. Sinto o suco gástrico como uma jibóia envolvendo a presa antes de devorá-la, interessante, como nunca pensamos nisso quando temos tempo para nós mesmos, de imaginarmos como somos por dentro. Falar com o nosso autônomo interior, o aparelho digestivo, o sistema urinário, o implicado sistema circulatório, falar com o nosso coração, com os nossos neurotransmissores. Agradecer, cada órgão e cada célula em particular, para que tenhamos um bom por vir, o que ainda irá acontecer e não sabemos... Só sei que hoje é domingo e lá fora sobeja um sol maravilhoso, abro a porta da varanda que dá de frente para uma árvore frondosa e de repente escuto alguma coisa toc, toc, toc, procuro entre os galhos, e o meu coração põe-se acelerado, eu não disse que havia algo por acontecer... Uma criatura divinal enlouquece os meus neurotransmissores, depressa apronto a câmera no tripé, pedindo a Deus que encompride esse momento, e começo a clicar, clic, clic, clic, ele, toc, toc, toc, não sei quanto tempo durou esse nosso encontro, a mim me pareceu uma eternidade, mas não passou de segundos. Eu registrando aquele instante e todas as suas cores, por todos os ângulos, é formoso, é belo, um gentleman me deixando fotografá-lo, eu dizia para mim mesmo, quase não acreditando. Ele lá, soberano, dono do galho seco da árvore, senhor do meu acendimento. Imaginava o estresse da larva no oco do pau e o toc, toc, toc dele cada vez mais perto. Ia fazendo furos no pau e o seu topete amarelo-penteado balançando a cada golpe dado, as penas iridescentes reluzindo aos raios do sol da manhã, uma manhã de domingo. Até então eu não sabia de qual assunto tratar e se teria inspiração, quando conversava com a minha barriga enquanto ela digeria. Foi quando fui à varanda, ele estava lá, garboso que só ele, fazendo pose, de tal maneira ainda que eu queira descrevê-lo me faltam palavras, resolvi então colocar a fotografia dele, complementando os meus dizeres. Ele preencheu de luzes os meus olhos, o meu coração e inundou-me de neurotransmissores. Além do que, encheu de cores, o meu domingo. Ele, o pica-pau-de-cabeça-amarela, também apelidado de João-velho.
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