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Foto do escritorLígia Maria Knabben Becker

Pai Nosso.

Atualizado: 13 de mai.

No texto de Lígia nossa homenagem a todos os pais: Autor: Lígia Maria Knabben Becker Herdei de meu pai um gosto enorme pelos livros e pela leitura. Não sei dizer precisamente a idade em que fui iniciada mas sempre soube que comecei a ler e escrever antes dos cinco anos de idade. Lembro com a clareza que a memória afetiva nos preenche, das capas duras, das cores e cheiros dos meus primeiros livros, de Fábulas do Esopo e La Fontaine, Contos da Carochinha, Histórias do Arco da Velha, Contos das Mil e Uma Noites e até dos dicionários. -Todos os dias é bom a gente aprender uma coisa nova, falava meu pai. O conceito de uma palavra já seria suficiente aprendizado. E eu adorava abrir o enorme dicionário de folhas finíssimas, o Lello Universal, livro pesado e mágico e cumprir a deliciosa tarefa. Dele eu desembrulhava termos desconhecidos cheios de significados sisudos que povoavam meu mundinho infantil vez ou outra por longo tempo. Depois, adulta, veio o gosto pelo ensinar a gostar dos livros, da escrita, enfim, do repartir com meus alunos o mundo das letras. Me recordo ainda de outro bem precioso que tive como herança desse mestre de todos os dias: o cultivo da espiritualidade como ferramenta disponível nas horas sombrias a trazer luz no mais profundo das nossas almas. Orações ao Anjo-guardião foram as primeiras fórmulas ensinadas para o aprendizado de que temos sempre como companheiros espíritos destinados a nos abençoar e proteger dos perigos, conforme representação simbólica na cena pintada em um pequeno quadro pendurado ao lado da minha cama. Retratava o fim de um dia escuro de chuva, com raios, e duas crianças caminhando para casa sobre uma ponte perigosa em rio caudaloso, e a postos, o bravo Anjo da Guarda com suas enormes asas eternamente a proteger a inconsequência infantil. A minha cabeceira, antes de dormir, aparecia sempre um anjo de carne e osso, a arrumar minhas cobertas. Apoio, proteção, carinho, bondade: como um anjo, era meu pai. - Bença pai! Bença mãe! Muitos anos escorreram na linha do tempo e neles a presença desse amigo e companheiro foi constante até pouco tempo quando a doença lhe tomou a lucidez e a vitalidade. Os papéis parecem que se inverteram. Hoje sou eu quem arruma as cobertas em torno de seu corpo alquebrado e do seu rosto de olhar distante e secreto. A vida me proporciona agora a oportunidade de caminhar pela mesma ponte perigosa de outrora, levando junto à criança que fui, a criatura filha do pai, corajosa e confiante nos bens herdados do amor paternal, divino e humano. Quando em prece, aproveito mais um ensinamento do pai terreno em relação ao Pai-Mãe divino. Aprendi que a ideia convencional de um Deus-Pai que comparece como masculino deve ser expressada no contexto do patriarcado iniciado em épocas distantes que com seus códigos e estruturas transmitiram às instituições religiosas a tradução parcial de um Divino masculino. Ficou-me assim, um Deus que não se divide como nos seres humanos, em homem ou mulher, e sim na Unidade que ultrapassa esse conceito. Portanto, ao invocar o Deus-pai, traço a minha reverência ao arquétipo ancestral ligado a figura masculina mas também ao Deus-Mãe, do aconchego, ambos me revelando uma experiência mais completa e global do Divino: a Grande Consciência Cósmica, o Grande Criador, o Amor Absoluto. PAI NOSSO QUE ESTÁS NO CÉU E também o pai que está na Terra, o que me dá a oportunidade de exercitar o amor filial SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME E o nome que herdei do meu pai, preservando-o limpo e honrado VENHA A NÓS O VOSSO REINO A mim chegou em um lar simples, reino de um homem de bem SEJA FEITA A VOSSA VONTADE Tua vontade maior fez sempre parte do grupo familiar ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU Uma vida em família com valores espirituais O PÃO NOSSO DE CADA DIA NOS DAI HOJE O provedor das necessidades materiais também, trabalhador incansável e amoroso PERDOAI AS NOSSAS OFENSAS Setecentos mil perdões pelas vezes em que te entristeci, meu pai ASSIM COMO NÓS PERDOAMOS AOS NOSSOS OFENSORES É teu o ensinamento de não carregar as pedras das ofensas na minha sacola e compreender o ofensor para poder perdoar NÃO NOS DEIXEIS CAIR EM TENTAÇÕES Sempre um pai com ouvidos de ouvir, olhos de ver e boca indulgente E LIVRA-NOS DE TODOS OS MALES Atento em ser exemplo na direção a caminhos menos tortuosos AMÉM Assim seja.

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