Reunimos um grupo de 10 amigos, Ana e Rudi, André, Fernando, Vanisi, Armi, Zélia, Clara, Ecilda e eu para nos aventurar na Estrada Real, iniciando em São João de Rey até Ouro Preto, aproximadamente 240 km em 10 dias. Praticamente tudo foi planejado através da internet, alguns telefonemas e assessoria do Instituto Real, que nos enviou as planilhas atualizadas descritivas de cada trecho, pois nenhum de nós conhecia o percurso escolhido, sabendo então que o elemento surpresa poderia estar presente e que sempre o espírito peregrino nos acompanharia e cada um pensaria no bem estar do coletivo, unindo-nos nas decisões, nos imprevistos e na parte divertida.
Chegamos em São João Del Rey dia 22/09 à tarde e aproveitamos para apreciar o centro histórico e comer uma deliciosa comida mineira. Nossa caminhada começou no dia seguinte cedinho, passando pela bela Tiradentes, pelo abundante artesanato de Bichinhos, chegando em Prados para pernoitar na Vivenda Letícia, onde fomos muito bem recebidos.
No dia seguinte, nossa caminhada foi até Lagoa Dourada, cidade conhecida pelo Rocambole, realmente maravilhoso, muito calor e trilha, precisamos de ajuda para nos abastecer de água, o que encontramos num sítio do acolhedor Márcio, que nos brindou com leite gelado e cerveja. Dormimos na empoeirada Pousada das Vertentes, da exausta, mas prestativa D. Aidé.
Próxima etapa seria Casa Grande, muito sol, chegamos à tarde, num vilarejo, exaustos e famintos, onde havia um toldo, e nossas amigas Clara e Zelinha nos esperavam com lanchinhos ao som de um funk local. Hilário. Os corajosos Fernando e Ecilda continuaram a jornada a pé, e nós rumamos de táxi à casa da D. Madalena, uma incógnita, pois não havia informações sobre o lugar, mas que nos reservou um grata surpresa, pois a casa era confortável, com pessoas amáveis, comemos a galinha que corria no quintal, muito bem preparada pelas anfitriãs, lavamos nossas roupas, dormimos super bem.
Outro dia, mais um desafio, 32 km pela frente. Nosso destino é Entre Rios de Minas, cidade que comemorava sua padroeira, com procissão e festa. No caminho, vários amigos novos no deram alegria ao nos orientar, como um motoqueiro curioso, cavaleiros prestativos, que desceram do cavalo para dar uma carona para a Zelinha e o sorridente Reginaldo, que também nos deu carona, após minha queda num “mata burro”, em que machuquei a perna. Dormimos na Pousada das Pedras, onde a camareira achou que éramos estrangeiros, ingleses aprendendo o português, não entendia nosso “manézes”.
Próxima etapa, é São Brás de Suaçuí, pequena cidade, com uma empada deliciosa, ficamos no Hotel Muralha, cheio de hóspedes barulhentos, mas de novo, dormimos muito bem.
Amanheceu chovendo, pela primeira vez desde que chegamos à Minas Gerais, o povo agradecendo muito cada pingo, pois havia 3 meses que não chovia na região, já bem castigada pela seca e pelas queimadas. Vestimos nossas capas, abrimos nossas sombrinhas e fomos em direção à cidade de Aleijadinho, Congonhas. No caminho encontramos lama e asfalto, mas não desanimamos, chegando, fomos visitar as maravilhas esculpidas em pedra sabão, as obras em madeira deixadas pelo filho mais ilustre da cidade. O contraste entre o lado histórico e a sujeira na parte mais baixa, causada pelas mineradoras é assustador. Ficamos no Hotel dos Profetas e à noite fomos jantar na pizzaria do famoso cover do Nerso da Capitinga, nem preciso dizer que foi super divertido.
Desafio pela frente neste dia, pois as mineradoras imperam nesse trecho, com muitos caminhões circulando, muita poeira “preta”, igrejas e lugarejos abandonados, a história praticamente esquecida. Ficamos muito tristes com o descaso, seja das autoridades, seja da indústria, ou daqueles que teimam em viver por lá, em condições precárias. Fomos até Lobo Leite, só havia uma igreja com dois sinos e uma estação ferroviária abandonada.Seguimos até Miguel Burnier, onde o plano era ir de ônibus até a próxima cidade, o que não aconteceu, pois as informações que tínhamos eram furadas e não havia sequer estação rodoviária, somente uma parada de ônibus, que não passava por onde precisávamos ir. Impasse. Ecilda, Fernando e Zélia saíram à procura de uma condução e nossos amigos Ana e Rudi, enviaram um táxi, neste dia eles chegaram antes na cidade de Santo Antonio do Leite, para nos resgatar. O final do dia foi surpreendente, pois a pousada Pouso do Alferes é um paraíso, charmoso, com ducha, lavanderia e um proprietário atencioso. Éramos os únicos hóspedes e aproveitamos ao máximo todas as mordomias.
Animados, refeitos, fomos à Cachoeira do Campo e depois à Glaura, lugar que merece muitos elogios, nunca vi tanta limpeza, cuidado com a natureza e com o casario antigo. Simplesmente maravilhoso. Mais trilha, pinguelas e carrapatos à frente, chegamos em São Bartolomeu, uma cidade de 140 habitante e mais de 300 anos de fundação. Somente uma pequena rua, e no final uma gracinha de pousada, branca com janelas azuis e muitas floreiras. Um delicioso almoço nos esperava, juntamente com os 2 únicos hóspedes, que simpáticos, nos acompanharam na deliciosa comida típica e mais aquela cachacinha supimpa. A cidade tem atrativos, como a famosa goiabada e doce de leite do Vicente e o bar do Nonô, com a especialidade da casa, bolinho de bacalhau e pastel de carne, cada um R$ 0,50 (vale a pena registrar). Também está construída a Igreja de São Bartolomeu, a mais antiga de todas que visitamos.
Enfim chegou o dia do destino final, Ouro Preto, mas ainda havia 17 km de trilhas a percorrer, somente subida, com a vegetação muito queimada nas laterais, sufocando até nossas expectativas em relação à beleza do caminho. Havia uma fonte, que nos deu água fresca e que serve de homenagem aos antigos tropeiros e à corte real, que ali passaram por volta de 1790. Avistamos estrada de terra e estropiados, pedimos carona até à Rodovia. Faltavam ainda 3 km de asfalto, mas estávamos eufóricos e logo chegamos na bela Ouro Preto, com a nossa historia contada em cada ladeira, monumento, museu, igreja e na população.
Aproveitamos ainda para passear, apreciar a boa comida oferecida nos botecos, restaurantes, descer e subir as ruas estreitas e na pousada Casa dos Contos, descansar, com uma bela vista de toda a cidade histórica de Ouro Preto.
Os mineiros são muito hospitaleiros, gentis e alegres. Tivemos algumas dificuldades com informações, pois a maioria das cidades em que passamos são pequenas, com pessoas que nunca saíram do lugar, sem conhecimento, mas sempre querendo ajudar os peregrinos vindos do sul.
O grupo foi sempre unido, coeso e divertido, abrilhantando a aventura com piadas, tombos, bolhas, cantorias, conversa fiada, compartilhando água e lanches, quartos, café da manhã (que em todos os lugares sempre contava com o tradicional queijo de minas). Nosso retorno foi dia 03/10, domingo.
Commentaires