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Foto do escritorLígia Maria Knabben Becker

Senhora de Si

Atualizado: 18 de mai.

Autor: Lígia Maria Knabben Becker As nuvens choravam águas que se reuniam às más águas daquela mulher. As cores de outono fundiam ar e terra sobre o mar da sua cidade remexendo as cinzas onde sua alma fizera berço. Logo, a espada de fogo da tristeza se levantava e a feria de leve em movimentos ritmados, porém infrutíferos. Nada sentia ou fingia não sentir, afinal, aquele exercício de se olhar por dentro e talvez encontrar respostas intranquilas poderia doer muito. Construira uma barreira de defesa para escorraçar os despontares de emoções que não expressassem a alegria, o prazer, a satisfação. O ar entrava em seus pulmões devagarinho. Inspirava a cor dourada do entardecer e expirava suas frustrações, tristezas e a praga daquele desânimo engolidor de vontades e de desejos. Inspirava. Expirava.... Inspirava um dia-a-dia construído a dois em parceria de relação, sem poder nem disputas; inspirava um olhar de gratidão e reconhecimento da igualdade dos sexos; inspirava o diálogo constante; inspirava o querer ser olhada, escutada também. Inspirava o não querer desejar. Depois, o querer, desesperadamente. Desassossego. Visualizava uma escada de corda, balouçante, fixada em uma nuvem mais próxima, e subia, subia e subia, fingidamente sem medo, em um devagar ambicioso. A cada degrau conquistado esquecia-se das dores da busca do não-sei-o-quê. Como se adaptar ao novo? Ora, se transformando, lhe dizia uma vozinha vinda de algum cantinho da sua alma. E sem parar, constantemente. Se entregue ao novo bravamente, sem julgamentos e com muito autoperdão. Perseguir sonhos, posso? Posso escolher querer um Outro, atavicamente, que me faça mais mulher, mais feliz, que me estimule no mistério do viver a minha história? Posso escolher a minha verdade através da minha intuição? Posso subir mais um degrau e fotografar com minhas retinas meu mundinho edificado com crenças, rituais e costumes de todos os tipos e deixá-las emolduradas nas paredes da casa que agora já não quero mais pra mim? Posso aceitar as diferenças e querer que aceitem meus cabelos vermelhos? Posso desencapar fios de lembranças da juventude e deixar escorrer a saudade em mini choques elétricos? E me permitir desacreditar? Desapaixonar? Duvidar? Posso? E a resposta soou clara e respirável ao bocejo de uma nova manhã: -Seja Senhora de si, e pronto!

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