Autor: Lígia Maria Knabben Becker
Da caixa de papelão guardada durante o ano inteiro no depósito, pularam os enfeites e o pinheiro do Natal passado. Cores variadas, sobressaindo o vermelho e dourado, laços, bolas, fitas, papais-noeis, anjos e estrelas. Tudo.
Uma delicada bola de cristal com desenhos de estrelinhas miúdas foi a escolhida para o início da prazerosa tarefa de enfeitar o pinheirinho (mesmo enorme continuava sendo o pinheirinho) à época natalina, tradição cumprida à risca desde os tempos de criança na casa paterna.
De repente, como desajeitada bailarina, a bola cai das suas mãos. Pelo chão, os cacos espalhados. Todos.
Pelos cantinhos mais escondidos da sala a bola se transformava em um mar de minúsculos pedaços que agora esperavam a vez de serem colhidos, com a delicadeza da colheita das frutas e flores mais sensíveis. Onde estavam todos esses cacos? Difícil seria catar todos eles. Quanto desperdício. De material, de tempo...de energia.
Recolhia um caquinho - e reconhecia nele, a tristeza da perda dos seres amados naquele ano, em outro, os frequentes momentos de solidão, outro guardava a indignação pelos desmandos na sua Pátria amada, outro falava a língua dos desafortunados, outro contava sobre as afrontas à Mãe Terra, outro ainda reclamava do descaso com os animais, a falta de cuidado com as crianças e idosos, a falta do exercício do amor. Um grande caco apontava o culto ao consumo exagerado dos presentes de Natal. Distorcia-se a realidade do tempo de confraternização e fraternidade pela rendição do ter coisas.
Os cacos mais difíceis de serem arrancados do lugar foram os cacos do orgulho, da vaidade e do egoísmo. Machucavam ao serem reconhecidos e tocados. Doíam mesmo. Eram seus pertences, esses.
Mas, o que mais doía era a certeza de que deveria haver transformação. Mudar dói mas era o que precisava fazer naquele momento quando se festejava o aniversário Daquele Menino que há mais de dois mil anos havia nascido para trazer às criaturas a ideia de um mundo de paz, alegria e amor. O mundo do Bem.
Momento mágico do agora.
Finda a jornada (temporária) de arrebanhar caquinhos, em identificar suas origens e livrar-se deles, chegava a hora de reiniciar a arrumação do pinheirinho deste Natal. A hora de recomeçar chegava e a serenidade modificava o incômodo da dor em otimismo.
Um bola linda, bordada com fios dourados de esperança e boa-vontade substituía a despedaçada. Como o planeta Terra em estação natalina a bola se enchia de luz e encantamento, afinal, seria essa a magia do Natal?
O pinheiro ficava cada vez mais bonito: anjos tocavam acordes de alegria, estrelas guiavam os corações dos seres para a luz, papais-noeis conferiam os presentes e o Menino Jesus espiava, feliz, nos braços da amorosa Mãe amada todos aqueles que sentiam a linguagem universal do Amor!
Um Conto de Natal
Atualizado: 13 de mai.
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