Caminho dos Tropeiros: dos Campos de Lages a Grande Florianópolis

Caminho dos Tropeiros: dos Campos de Lages a Grande Florianópolis

Talmir Duarte da Silva,

Fundador e primeiro Presidente da ACACSC

O Caminho dos tropeiros é uma rota secular que liga Viamão (RS) a Sorocaba (SP), realizada por homens munidos por mulas que faziam o comércio entre comunidades.  Desse movimento tropeiro muitas cidades foram criadas e ampliadas. A Associação Catarinense dos Amigos do Caminho de Santiago de Compostela, criada em 1999, com o propósito de preparar pessoas para realizar o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, organiza uma série de caminhos. Dentre eles está o Caminho dos Tropeiros. Assim, percorremos irmanados, relembrado a cada etapa a história dos Tropeiros, que na sua atividade, traziam gado de Lages a Grande Florianópolis e, no seu retorno subiam a serra com uma série de alimentos como sal, açúcar, peixe defumado, entre outros produtos, para o abastecimento da região.

Iniciamos a caminhada com um dia maravilhoso. Foram 28,6 km percorridos. Pela manhã cedinho fomos até o monumento aos Tropeiros e na sequência seguimos para a belíssima catedral de Lages, onde recebemos uma benção especial. O caminho segue o traçado por estradas em chão batido, procurando seguir o Caminho original, passando por entradas de fazendas, araucárias, entre subidas e descidas todo um belo cenário com flores, plantas, animais e aves que embelezam os campos e, é claro, as cenas com os peregrinos, eixo central da caminhada. Somos 46 pessoas. Talvez, 50% sejam de Florianópolis. E os demais de várias cidades de Santa Catarina, Rio e Janeiro e Mato Grosso.

Emoção, alegria e contemplação no segundo dia do caminho. Caminhamos 23,6 km e partimos do portal de entrada de Bocaina do Sul e chegamos a 5 km antes de Rio Rufino. Esse caminho é todo feito em estrada de chão e o mais próximo possível do que foi a rota dos Tropeiros de Santa Catarina nessa região.

No terceiro dia da caminhada, partimos do distrito de Canoas pertencente ao município de Bom Retiro. Caminhamos mais de 6 horas e chegamos no distrito de João Paulo.
Cenário lindo, alguns sinais outonais nas cores das folhas de algumas plantas. Os animais seguem dando o ar de sua graça. Durante o percurso tivemos uma sapecada de pinhão, tradição da região, com pinhões caídos das pinhas das araucárias. É a mãe natureza nos brindando com o alimento num ambiente de vales, morros, montanhas por todos os lados e os peregrinos que caminham horas e horas, se abastecendo de endorfina e aumentando a alegria e o prazer pela vida.

No quarto dia, com temperatura bem agradável, saímos do distrito de João Paulo, indo até o centro de Bom Retiro, em direção ao município de Alfredo Wagner, passando pela Serra de Trombudo. Descemos dos 890 m sob nível do mar para os 480 m de Alfredo Wagner. Foram quase 9 horas totalizando 30 km.

No quinto dia, que para mim foi o melhor e, também o mais puxado. Foram quase 40 km em 11 horas, com muitas paradas, refletindo e observando a natureza. Saímos de Alfredo Wagner a 480 m, subindo até os 1250 m, no Alto da Boa Vista. Terminamos baixando aos 850 m sob o nível do mar, na localidade Taquaras, município de Rancho Queimado. Tudo um grande espetáculo da natureza! Um sinal que nos leva a conectar ainda mais com a natureza e a espiritualidade. Os sons, as cores, os frutos que vamos comendo ao longo do caminho, as conversas entre nós, o silêncio quando caminhamos sozinhos nos ajudam na interiorização e percepção de tudo o que nos liga ao Divino e as boas coisas da vida. Tudo isto nos eleva ainda mais como seres humanos e assim, a ACACSC vai cumprindo seu papel. Particularmente me sinto profundamente agradecido pois, por questão de saúde, já não fazia caminhadas longas desde 2014.

No sexto dia, foram 30 km partindo de Pinheiral, município de Rancho Queimado, seguindo pelas localidades pertencente a Angelina como: Rio Bonito, Rancho de Tábuas, Alto Garcia e ainda, subimos e descemos uma longa serra para chegarmos no centro de Angelina. Caminhamos ainda, até o BlumenGartenHaus, hospedagem da Congregação de Irmãs Franciscanas. Um pequeno paraíso! Um dia em que nos ajudou a saber e entender mais quem somos, para que viemos e para onde vamos. Um dia para refletir e entender melhor a diferença entre o “ter” e o “ser”. Aqui entramos em comunhão com os irmãos de caminhada. E, claro, tudo está no intelecto, na alma e no espírito de cada um.

No sétimo dia de Caminhada, fizemos 31 km. Tivemos um belo momento de espiritualidade que nos foi brindando pela irmã Nadir do convento. Partimos dos 450 m sob nível do mar e chegamos em São Pedro de Alcântara aos 230 m. Um caminho repleto de jasmim do brejo. Saímos do ambiente de serra e enfrentamos um dia quente, típico de terras baixas próximas do litoral. E de São Pedro de Alcântara fomos direto para Santo Amaro da Imperatriz no tradicional Hotel Caldas da Imperatriz, onde desfrutamos de banhos, na segunda melhor água termal do mundo.

No oitavo e último dia, seguimos em direção a Igreja de Santo Amaro da Imperatriz. Ali fomos recebidos com uma benção do padre local. Da igreja, caminhamos até a localidade de Sul do Rio, para uma confraternização e almoço, na residência do Ruy Araújo Júnior, presidente da nossa Associação. Ali passamos horas com diferentes momentos. O ponto alto da finalização da caminhada foi a revelação do “Anjo”. Atividade já instituída como forma de aproximação e cuidado uns com os outros, durante o caminho. Este cuidado tem sempre boa recepção entre os participantes, que durante os percursos enviam aos seus protegidos, flores, bilhetes, objetos e doces como forma de agrado.

Nesta caminhada, reconheço e parabenizo a Diretoria pela condução dos trabalhos e harmonia durante todo o percurso. Gratidão pela oportunidade e pela vivência. Feliz em ver uma Associação vibrante e capaz de conduzir os objetivos para a qual foi criada.

                                                                                                                               Abril/2018