Um Caminho da Imigração Alemã – 14 de setembro 2019

Por Ligia Maria

CAMINHADA em ALTA VARGINHA, SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA:

Um Caminho da Imigração Alemã

 

’Gran, teurer Freund, ist alle Theorie und grün  des Lebens Goldner Baum”. (Goethe)

Cinzenta, caro amigo, é toda teoria e verdejante e dourada é a árvore da vida.

 

E como seres buscadores da prática do bom viver nas coisas simples e douradas da árvore da vida, mais de cinquenta caminhantes partem para mais uma caminhada na comunidade chamada Alta Varginha, município de São Pedro de Alcântara.

De ônibus seguiram até São Pedro, pequena cidade rural distante 34 km de Florianópolis, em um sábado onde as  promessas de chuva não conseguiram  afastar o bom humor e a alegria dos participantes .

O município de São Pedro de Alcântara recebeu tal nome em homenagem ao Santo de devoção da Família Imperial (São Pedro)e ao Imperador do Brasil, Dom Pedro I , ou Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, ufa!

São Pedro foi a primeira colônia alemã de Santa Catarina.

Os primeiros imigrantes alemães chegaram à região em 1829 e às margens do rio Maruim formou-se o pequeno núcleo colonial em plena mata virgem e habitat indígena, a ‘‘Çolônia dos Alemães ‘’, posteriormente chamada de São Pedro de Alcântara em homenagem à Família Imperial reinante. Sua fundação ocorreu às margens do Caminho das Tropas.

Herzlich Willkommen! Sejam bem- vindos!

À chegada, os dois ônibus entregaram os visitantes ao centrinho da cidade na Praça Leopoldo Kretzer  com vistas ao Monumento ao Centenário da Imigração Alemã, ao  Obelisco dos Sobrenomes, onde há o registro dos sobrenomes de imigrantes estabelecidos na colônia de São Pedro no período  de 1829 a 1900 e o Monumento às Famílias de Imigrantes. A Figueira da Praça, majestosa, se destaca como se estivesse em perene abraço ao entorno do lugar, considerado um pedacinho da Alemanha.

No alto da praça , a visão da  imponente Igreja Matriz com sua cúpula que remete à Basílica de São Pedro, no Vaticano.

A Cafeteria Kaffee Platz, ali mesmo no centrinho alcantarense e seu excelente café colonial aqueceu ainda mais os corações andantes.

Seguiu-se o ritual de preparação ao início do caminho: cajados e criaturas em círculo, de mãos dadas, oração, avisos, apresentação do Guia Cavaleiro Geferson, registros fotográficos e a partida.

Saindo alguns metros da Praça, uma placa já anuncia a entrada ao Caminho das Tropas ou Caminho Imperial (Kaiserlicherweg). Diz que se trata de um Patrimônio Cultural  de Natureza Material de valor histórico, tombado em 2004.

Datado de 1789, quando o Brasil era Colônia de Portugal, foi a primeira ligação entre Nossa Senhora do Desterro (hoje Florianópolis) com a Vila de Nossa Senhora dos Prazeres dos Campos das Lajens (hoje município de Lages).

No caminho transitavam tropeiros levando mulas cargueiras, gado, gêneros alimentícios e outras mercadorias para comercializar no litoral. E para comercializar no planalto catarinense: peixes, cachaça, melado, farinha de mandioca, sal.

Um trecho da caminhada é pavimentado com pedras brutas tipo pé de moleque, construído por mãos escravas.

O município possui engenhos de produção de cachaça de alambique e melado. Não estavam nessa rota do dia.

Depois de um percurso de poucos quilômetros, ladeando o rio, o guia cavaleiro aguardava o grupo diante de lindo e conservado casarão amarelo onde parte da história e cultura do lugar está guardada – é o Centro Cultural Casa de São Pedro- que abrigava e alimentava tropeiros em outros tempos  sendo hoje espaço pertencente ao Instituto Carl Hoepcke  que firmou parceria com a Prefeitura Municipal para guardar objetos e documentos referentes a colonização alemã no Primeiro Reinado, Segunda Guerra Mundial e seus desdobramentos na Erste Deutschen Kolonie des Staats Santa Catarina ( Primeira Colônia Alemã do Estado de SC).

E a caminhada continuou por trilhas que passaram por propriedades rurais , devendo ser feitas sempre com guias que a elas têm acesso permitido e que  literalmente abrem as porteiras dando passagem aos visitantes.

Descidas e subidas, trechos com lama e até uma visão mágica da mata entre neblina por antigas plantações de pinheiros e eucaliptos somados à vegetação da Mata Atlântica se descortinou aos passantes. A quietude mesmo que momentânea, pôde proporcionar que se tomasse um ‘‘banho de árvore’’ sob o dossel de folhas e um caminho macio sobre o tapete das mesmas pelo chão.

Aos ouvidos e olhos atentos se apresentaram tucanos, arapongas, canários, bandos de tirivas e curucacas. E os sons das águas dos riachos e do rio. A beleza das pedras  e dos formigueiros feitos monumentos espalhados pelos pastos…O cheiro da natureza animal…

Pés e passos na terra molhada, nutridora Mãe…

Quase à entrada da primavera, flores e frutos explodem com força e se oferecem gratuitamente aos andantes: gabirobas, amora vermelha , amora preta, goiaba , limão laranja…há que se ter olhos de passarinho e passos sem muita pressa para apreciar e registrar a natureza que é a companheira constante de todos os seres caminhantes .

Uma pequena parada para o lanche aconteceu em um antigo casarão do ano 1933, agora abandonado, no meio da verde várzea.  Pertenceu  a família Petri, segundo o guia .O registro fotográfico deixará eternizado esse momento.

Maia à frente, houve ainda a gostosa pausa para provar e comprar os biscoitos caseiros Junckes.

Surgiram as casas coloridas, de jardins floridos, muitas orquídeas e hortas lindas para se ver. Para comer  também !

Teve até quem colheu e provou a tenra e suculenta couve, a  cana- de- açúcar….o limão espremido na água…na cachaça…

E assim, a caminhada à localidade de  Alta Varginha ficou impressa na memória e corações dos caminhantes da nossa Associação. Nos passos impressos na lama. Na interação com os companheiros da jornada e  com a Natureza em suas manifestações do Divino!

A volta ao centrinho de São Pedro para o almoço, previamente reservado no restaurante da praça, foi uma festa: uma prévia para a Oktobertanz (Danças de Outubro), típica festa alemã que será realizada no próximo final de semana na comunidade, ali se  apresentava com  banda e dança alemãs, casais vestidos a caráter, barracas com artesanato, hortaliças, comida e muita cerveja. Ein Prosit!!

Mais um belo caminho realizado em harmonia e  companheirismo, qualidades suficientes para o sucesso das futuras programações da Acacsc.

 

Lígia Maria