Página 55 - Olhar Peregrino paginadaOK4

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devido ao meu cansaço físico e emocional. Parecia que eu não saía
do lugar, até que avistei a minha frente, caminhando em sentido
contrário ao meu, um senhor levando apenas com uma
pochette
e
um cajado. Indaguei-lhe quantos quilômetros faltavam para
chegar a Los Arcos? Apontou para trás das montanhas. Continuei,
mas a caminhada não rendia. Alguns minutos depois, ao olhar
para trás, vejo o tal senhor retornando, acompanhado de duas
senhoras. Alcançaram-me e indaguei-lhe novamente: “Até Los
Arcos, quantos quilômetros?”.
Então, as duas senhoras - que me pareceram de
nacionalidade alemã e pareciam rezar um terço -, colocaram-se
cada uma de um lado, enaram um braço aos meus e pronticam-
se a carregar minha mochila, para ajudar-me. Agradeci, mas não
aceitei. Anal, disse-lhe: “A peregrina, sou eu”. Assim, ajustamos
a três, os passos de forma cadenciada e seguimos o caminho (eu no
meio delas) até Los Arcos, onde me deixaram à porta do albergue,
e amorosamente me abraçaram e nos despedimos. Não tive
palavras para agradecer os “Anjos” que foram, ao cruzarem meu
caminho, me dando suporte e força, atémeudestino.
Ao chegar em Portomarin, fui à igreja assistir à missa, à
noite. Ao término desta, fui à sacristia pedir ao padre uma benção
especial
in memorian
da minha mãe. Fazia um ano de seu
falecimento. Senti Paz. Na manhã seguinte, no albergue, ao
levantar, deparo com uma movimentação estranha. Então, fui
informada da morte, por parada cardíaca, de um peregrino que
fazia o Caminho com sua mulher. A princípio, quei chocada,
anal, este tinha falecido no mesmo dia da minha mãe, e do
mesmo mot ivo. Decidi entender que minha mãe, me
acompanhava. Serenei.
Finalmente, chegada ao destino.
A tese de que chegar a Santiago de Compostela, não é o
nal, mas o inicio de tudo, é verdadeira. Assim, como a VIDA, é
um TODO em constante mutação, movimento, transformação,
encontro, Santiago de Compostela, é um Caminho de entrega,
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Clara Maria Motta Kuhn