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Como traduzir o esforço para chegar ao destino previsto
para o primeiro dia? Mas, felizmente chegamos, descansamos e
reiniciamos o próximo de muitos outros, tu como mestre, eu como
discípula! Em cada um deles, encantavam-me os novos
personagens, juntando-se aos já companheiros - mochila,
peregrinos, setas amarelas, roteiros, lamentos, reclames, línguas
diferentes - e o palco da História. Enm, invadiam-me sem freio e
estavam me soprando qual vela sob efeito de ventos fortes. Não
era desse jeito, porém, que eu queria percorrer-te; faltava
intimidade, Caminho.
Procurei, então, adotar a postura de aquietar-me, e como
num ato de arquivar, recolher cada evidência para ser revista e
compreendida mais tarde, quando o corpo cansado desfrutaria do
sossego dos albergues ou das pousadas. Então, sim, ganhamos
vida, um ao outro, meu Caminho. Eram os momentos fortes do
aprender, do encontrar-me, recolhendo para a memória o que
vira, ouvira e se tornava parâmetro para o autoconhecimento. E
permitias que eu compreendesse que tudo eram partes tuas,
Caminho!
Os personagens foram tomando corpo e cada um
reclamava diferente entendimento. Foi assimque aprendi contigo,
Minha Mochila, que o peso excessivo que permiti em ti levar
cansava-me, mas também forçava reconhecer a necessidade de
mudança para o desprendimento, para a simplicidade; mostrava-
me que era preciso esforço para garimpar, dentre tantos
pedregulhos, aqueles que deveria lapidar, por serem o
simplesmente necessário.
Muito além de símbolos a seguir, aprendi a vê-las, Setas
Amarelas, como se seres vivos fossem, de graça dando a segurança
do rumo, como testemunhas dos passos de outro alguém que por
ali andou, de há muito ou de há muito pouco tempo. Ao vê-las,
imaginava, longínquo, o som dos passos de buscadores que,
comungando com supostas outras buscas, preocuparam-se em
facilitar-lhes a jornada!
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Olhar Peregrino