Página 117 - Olhar Peregrino paginadaOK4

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sol do outono trespassou a janela e iluminou o rosto de
umamulher. Seus dedos longos seguravamo álbumde fotograas
envelhecidas, agora aberto em revelações de momentos vividos
naquela primavera distante em terras ibéricas: o tempo dos seus
passos rmes e decididos a caminharem por montes, campos,
vilas, templos, pontes, castelos, onde pudessem encontrar
vestígios de história, arte, tradição, Natureza e quem sabe, até da
Divindade. Não estava em seus planos passar-se a limpo e revelar-
se a si própria.
Era tempo de experimentar sentimentos novos e despertar
os adormecidos.
O tempo doCaminho de Santiago de Compostela!
Ummundo de cores, imagens, cheiros, sons parecia tomar
vida pela casa espanandomemórias e seus signicados.
Apaisagem ibérica falava dos bosques de castanheiras e de
carvalhos, do canto do cuco, dos campos de trigo, das papoulas e
dos pimentões. Dos albergues, das pontes, castelos, igrejas e
cidadezinhas medievais, dos Cruzeiros, alminhas, das
imponentes Catedrais de Leon e de Burgos. Dos gos, amoras,
uvas, ameixas e peras colhidos à beira do caminho. Da chuva, do
sol, do vento, da poeira e da lama. Das setas amarelas, das vieiras,
dos cajados. Do vinho e do pão. Da sopa de alho e das lentilhas. Do
menu peregrino. Das botas, do saco de dormir, beliches, mochilas.
Dos choros, dos descontroles emocionais, dos questionamentos de
toda ordem, das aições espirituais, das saudades dos entes
queridos, das bolhas nos pés e cansaços gigantes. Dos encontros e
desacertos. Das orações, das massagens curadoras, das refeições
compartilhadas. Dos roncos e cheiros em várias nacionalidades.
Da glória da Catedral de Santiago. Do abraço amigo ao celebrar a
A Catedral
O
Lígia Maria Knabben Becker