sol do outono trespassou a janela e iluminou o rosto de
umamulher. Seus dedos longos seguravamo álbumde fotograas
envelhecidas, agora aberto em revelações de momentos vividos
naquela primavera distante em terras ibéricas: o tempo dos seus
passos rmes e decididos a caminharem por montes, campos,
vilas, templos, pontes, castelos, onde pudessem encontrar
vestígios de história, arte, tradição, Natureza e quem sabe, até da
Divindade. Não estava em seus planos passar-se a limpo e revelar-
se a si própria.
Era tempo de experimentar sentimentos novos e despertar
os adormecidos.
O tempo doCaminho de Santiago de Compostela!
Ummundo de cores, imagens, cheiros, sons parecia tomar
vida pela casa espanandomemórias e seus signicados.
Apaisagem ibérica falava dos bosques de castanheiras e de
carvalhos, do canto do cuco, dos campos de trigo, das papoulas e
dos pimentões. Dos albergues, das pontes, castelos, igrejas e
cidadezinhas medievais, dos Cruzeiros, alminhas, das
imponentes Catedrais de Leon e de Burgos. Dos gos, amoras,
uvas, ameixas e peras colhidos à beira do caminho. Da chuva, do
sol, do vento, da poeira e da lama. Das setas amarelas, das vieiras,
dos cajados. Do vinho e do pão. Da sopa de alho e das lentilhas. Do
menu peregrino. Das botas, do saco de dormir, beliches, mochilas.
Dos choros, dos descontroles emocionais, dos questionamentos de
toda ordem, das aições espirituais, das saudades dos entes
queridos, das bolhas nos pés e cansaços gigantes. Dos encontros e
desacertos. Das orações, das massagens curadoras, das refeições
compartilhadas. Dos roncos e cheiros em várias nacionalidades.
Da glória da Catedral de Santiago. Do abraço amigo ao celebrar a
A Catedral
O
Lígia Maria Knabben Becker