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Rosilene Sardá Rabelo
aquele simples sanduíche, que me matava a fome, parecia-me um
manjar dos deuses.
Aí que comecei a perceber que, às vezes, passamos por
momentos tão bons, que não nos damos conta de que são as coisas
simples nos fazem felizes. Era sempre assim, esses momentos
únicos, fazendo lanche, almoçando ou até mesmo nos Albergues,
eu sentia aquela vibração gostosa, aquela comunicação visual ou
até mesmo a troca de palavras com meu inglês não apurado com
pessoas nunca tinha visto, mas queme pareciamtão próximas.
Dormimos em Foncebadón, lugar marcante, com toda a
vibração hostil, herança de minha história. Foi um momento em
que cou em cheque a continuidade da peregrinação. Mas, nada
melhor que uma noite de sono para revigorar e voltar ao Caminho
que tantome interessava.
O dia iniciou muito frio. Fomos em direção à Cruz de
Ferro, onde deixei minhas pedrinhas - e as dos meus - com fé, em
agradecimento e pedindo ajuda. Foi um dia agradável, com o
passar das horas começou a esquentar. Os morros permeados de
neve, eramumespetáculo à parte.
Ao longo dos dias de caminhada, foram surgindo lindas
paisagens. E, também, o cansaço, as dores nos pés. Mas nada tirava
meu des lumbrament o pe l as be l as rose i ras , que nos
contemplavam com sua cor vibrante e tamanho exuberante.
Acordar cedo, antes do sol nascer, fazer nossas orações, seguir em
frente, ao encontro do novo, e ao mesmo tempo, chegar ao nosso
destino. Tivemos momentos de grandes risadas e comilanças e de
caldo verde detestável. Tudo cou marcado em nossas vidas,
comomomentos únicos, para sempre. Passamos por pedregulhos,
asfalto, mata. E com o passar dos dias, as coisas caram mais
cansativas, mas menos duras pelo lado emocional. Lembro até
hoje o gosto das cerejas quematavamnossa fome e sede.
O Cebreiro - momento maravilhoso -, que lugar mágico!
Senti meu coração acalmar. Tive a certeza de que precisava passar
pelos apuros, pelas unhas que perdi, para entender que