Página 95 - Olhar Peregrino paginadaOK4

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dor no tornozelo direito, com fortes indícios de tendinite. A dor
acompanhou-me nos quatro últimos dias de peregrinação, mas,
dos peregrinos, só um se dispôs a acompanhar-me até o nal. Meu
bom amigo José, espanhol, providenciou anti-inamatórios,
descansos periódicos e palavras de ânimo, sem as quais eu teria
desistido de completarminha peregrinação andando.
Enm, o último dia, para o qual os peregrinos costumam
estar altamente motivados. Este trajeto também se faz subindo e
descendo ao longo de mais de uma dezena de vilas, sem maiores
diculdades. Santiago de Compostela é vista do alto, já de longe, e
logo os peregrinos vasculham o horizonte à procura das torres da
Catedral e, sem perdê-las de vista, baixam rumo à cidade, em
silêncio e recolhidos ou, ao contrário, expansivos em sua
comemoração pelo mda jornada.
As condições pouco adequadas da Via de la Plata, ou
Caminho Mozárabe de Santiago, não favoreceram a introspecção.
A segurança física - comer, beber, dormir - exigiram atenção
constante, na maior parte dos trechos. Relaxar, somente quando
nós já estávamos mais próximos da Galícia e, às tardes, quando já
albergados e alimentados. Quando digo nós, rero-me aos meus
companheiros mais constantes: David, inglês; Francesca, italiana;
Peter, alemão; Christian, francês; Miguel, Luís e José, espanhóis;
Lieselotte, alemã; e uma dupla belga, de pai e lho, cujos nomes
não registrei. As moças interromperam sua peregrinação algumas
etapas antes do nal, os demais, encontrei-os em Santiago de
Compostela, a maioria na Catedral, durante a missa dos
peregrinos. O convívio com esses amigos, sim, foi um grande
aprendizado. Provavelmente, a lição queme reservou oCaminho.
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Inácio Stoffel