Página 119 - Olhar Peregrino paginadaOK4

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abrir as gavetas trancadas na suamente...inclusive o de Santiago.
Rememorava ainda, que mais tarde, ao esplendor românico e
gótico das construções e também da Catedral de Santiago,
sobrepõe-se o barroco com muitos adornos, altares, esculturas,
colunas detalhadas, policromias, criações emouro.
Foram as extravagâncias e as muitas paixões da sua vida o
seu lado barroco, reetia. O exagero do rebuscamento externo em
detrimento da alma lavada e simples, emprocesso inconsciente do
sentido da vida.
Novamente faiscavamna suamemória as rosáceas, agora a
da Catedral de Burgos, depois a de Leon, brilhando na sua mente:
a rosácea seria a representação do seu sermaior?Do seuEspírito?
O círculo mágico, representando o sol e sua trajetória no céu para
povos da antiguidade fez com que ela se permitisse viajar em
direção ao seu próprio sol central experimentando uma sensação
de plenitude e união com o Divino. O que seria aquilo? Um novo
estado de ser? Do ser encolhido e com pouca luz de consciência à
centelha divina que descobrira ser! Surpreendeu-se com o
entendimento de que não precisaria que o outro preenchesse o seu
vazio e celebrava a completude de si mesma, a outra metade
perdida de quemrealmente era.
Além dos pés, o seu caminho havia sido feito com o
coração que às vezes batia dentro do seu cérebro. Toda aquela
jornada havia mostrado a importância do processo do largar o
desnecessário ao longo do trajeto, com seu peso demasiado,
desnudando aquela peregrina e mostrando-lhe o caminho
desconhecido. Era preciso coragem. E ela teve.
Percorreu vales, montes muitas vezes cheios de demônios
(interiores) e anjos, o terror do desconhecido, da solidão, até
descobrir uma conexão com o uxo da vida em fontes internas.
Será que seus pés tinhamconseguido recolher a sabedoria daMãe-
Terra emcada passo dado?
Sim, aos poucos sua história foi sendo moldada a sua
catedral interior brotava, esculpida na riqueza do simples e do
sentir.
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Lígia Maria Knabben Becker