Página 150 - Olhar Peregrino paginadaOK4

Versão HTML básica

eram do oeste do estado, disse, e que vinham mensalmente a
Florianópolis para o tratamento do lho.
O menino tinha um sorriso lindo, principalmente quando
olhava para o mar, e não tirava os olhos dele sequer um minuto,
era como se algo o encantasse e fosse mágico aquele momento.
Disse chamar-se Gabriel e que tinha nove anos de idade. Em
nenhummomento ele demonstrou tristeza oudor.
Perguntei então do que mais gostava no mar e ele
respondeu ser o cheiro e a brisa que dele vinham; sorria dizendo
isto. Antes de me despedir, dirigi-me ao Gabriel e disse a ele que
pedisse por saúde àquele que fez o mar de que ele tanto gostava.
Ele sorriu e disse saber de quem estava falando. Seu sorriso tão
grande me fez sentir pequeno e fraco. Despedi-me e sai andando
sem ter coragem de olhar pra trás. Imagina, eu querendo ensinar
Fé a um ser tão especial como aquele, que pouco tinha e que muito
me deu. Agradeci a Deus por ter-me dado o privilégio de conhecer
aquele menino-anjo em um momento tão especial de minha vida,
o momento em que duvidava da conquista do Caminho. Eu tinha
saúde e pernas perfeitas, porque então omedo e as dúvidas?
Ali aprendi que o Caminho começa muito antes do início,
propriamente dito.
No Caminho os dias nunca são iguais
Passei por inúmeros
pueblos
(vilas) e cidades grandes, que
de certa forma atravessaramo Caminho ou que zeramparte dele.
Talvez descrever o Caminho nada mais seria que um relato
pessoal, cada um o descreveria das mais diversas maneiras porém
o que realmente sentimos, muitos não falariam ou ao menos não
conseguiriam expor. Falar da alma é muito difícil, falar de si
próprio é pior, é algo que não está em nosso cotidiano; falamos de
tudo e de todos e, quando às vezes falamos de nós mesmos,
simplesmente dizemos o que nosso 'eu' já crivou, depurou, já
glosou ou simplesmente peneirou, pintamos às vezes uma gura
irreal.
150
Olhar Peregrino